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Minuto Zero

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

Minuto Zero

27
Dez10

Segunda é o Dia - Semana Melhores do Ano (2010)

Minuto Zero
Jéssica Augusto

Em 2010, muitos portugueses brilharam por esse mundo fora. Assim, torna-se difícil seleccionar e eleger um como figura do ano. Ainda assim, decidi distinguir a atleta portuguesa Jéssica Augusto que, no último mês de Novembro, conquistou o título europeu de corta-mato. Jéssica Augusto, atleta nascida em Paris e formada no Sporting de Braga junta este título europeu à medalha de prata conseguida há dois anos, em Bruxelas, e ao bronze que em Julho deste ano conquistou em Barcelona, na prova dos 10000 metros dos europeus de atletismo.
Escolhi falar de Jéssica Augusto porque, este ano, foi a atleta portuguesa que mais alto triunfou. Contudo, muitos outros podiam ter sido referenciados (desde os já sobejamente conhecidos Naide Gomes e Nelson Évora até, por exemplo, Sara Moreira que em Barcelona conquistou também uma medalha de bronze). Com esta escolha, distingo não só a atleta mas toda uma modalidade. O atletismo já deu grandes alegrias a Portugal e, com maior ou menor regularidade, continua a trazer troféus para o nosso país.
No ano em que o “eterno” professor da modalidade, Moniz Pereira, sentiu o peso da idade, importa novamente destacar o atletismo como um desporto com muitas potencialidades em Portugal. Também no ano em que muito se falou da organização do Mundial de Futebol, importa chamar a atenção para a falta de infra-estruturas que os nossos atletas têm. Não é prioritário, na actual situação sócio-económica do país, construir complexos de treinos. Contudo, certamente será mais prioritário que tentar trazer para Portugal organizações de eventos que só darão mais despesa.
Mas o que importa agora, em jeito de balanço, é felicitar Jéssica Agusto pelo seu brilhante resultado. Saudar, também, todos os seus companheiros que levam mais altos as cores nacionais, bem como todos os profissionais que se empenham para que esta modalidade não fique votada ao amadorismo. E relembrar os governantes que há muito por onde investir, longe dos “suspeitos do costume”. Esperemos agora que, em 2011, tenhamos ainda mais atletas lusos a cortar a meta em primeiro lugar.

by João Vargas

PS – Esta crónica será, por motivos profissionais, a minha última contribuição para o projecto Minuto Zero. Contudo, gostaria, antes de largar o teclado, de agradecer a toda a equipa do Minuto Zero a oportunidade que me concederam para, durante estes meses, participar na coluna da segunda-feira. A eles, bem como a todos os cronistas, desejo o maior sucesso. Aos nossos leitores, agradeço a disponibilidade para lerem e comentarem. Certamente que, em breve, nos voltaremos a encontrar.

13
Dez10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Foi no Brasil, mas podia ser cá

Esta semana assistimos, através da televisão brasileira ou de vídeos no Youtube, ao espancamento até à morte de um adepto brasileiro. Não interessa qual o clube do adepto, nem qual o clube dos agressores, já que são meros detalhes numa história que se conta em poucas palavras. O jovem, de 19 anos, foi agredido em plena via pública com tábuas das obras e sinais de trânsito até jazer inanimado no meio da rua. Depois de tamanha tareia, chegou ao hospital já sem vida.
Este episódio, que ocorreu no Brasil, é sintomático do pior que o futebol tem. E o mais caricato é que ambas as claques nem se encontravam num contexto um jogo de futebol. Simplesmente, a vítima envergava uma camisola diferente da que os homicidas defendiam. E apesar de se ter verificado com adeptos de futebol, este tipo de violência não é seu exclusivo nem, tão pouco, do Brasil. Seja como for, estes actos são inqualificáveis e, por isso mesmo, não só enquanto adeptos mas, sobretudo enquanto cidadãos, não os podemos deixar passar em claro.
O que aconteceu esta semana no Brasil tem acontecido em muitos outros lugares do mundo, mas nem sempre com um final tão trágico. Até em Portugal assistimos a cenas de violência incríveis em determinados jogos. É frequente naqueles opõem Porto a Benfica ou Braga e Guimarães, mas até em jogos dos campeonatos distritais de juniores são prática comum. E quem fala em futebol pode, também, falar de muitos outros desportos. Mas tudo isso são detalhes, meros acessórios, para um problema objectivo e generalizado. E não podemos permitir que em pleno século XXI, em países que se dizem desenvolvidos, estas cenas de violência continuem. E não podemos, sobretudo, continuar a gastar dinheiro em efectivos policiais para dar cobertura a estas cenas de violência sem que depois os culpados não sejam severamente punidos.
Vivemos actualmente num Estado de Direito e em liberdade e considera-se, por isso, que a) se pode fazer tudo o que se quer sem qualquer coacção e b) não se pode ser punido de modos que atentem contra a integridade física. Porém, como já está mais que comprovado, este pacifismo (ou deverei dizer, “passivismo”?) não é a solução. Enquanto se continuar apenas a “identificar” os adeptos violentos mas não se aplicar o correctivo adequado, na hora e sem contemplações, não serve de nada vivermos num Estado de Direito. Porque, no fundo, de que serve uma eventual indemnização que os familiares deste jovem são receber? Se a educação cívica e o respeito pela ordem fossem incutidos desde o início da formação enquanto pessoa a cada um de nós, não seria sequer necessária a existência de polícia. Mas, já que assim não acontece, usemos de facto a força que a polícia tem para castigar os infractores, ao invés de continuarmos a gastar milhares de euros em policiamentos em que a polícia não é mais que meros fantoches gozados pela multidão. Um pouco à laia dos primórdios do Direito, devíamos começar a aplica a velha máxima do “olho por olho, dente por dente”. Estou certo que, assim, assistiríamos a cada vez menos cenas de violência. De que serve estar num Estado do Direito se esse “Direito” protege mais os criminosos que as vítimas?



by João Vargas
06
Dez10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Felizmente perdemos!
Ao contrário do que alguns idealistas previam, mas ao encontro do que mais se esperava, Portugal ficou fora da organização do Mundial de 2018. A candidatura portuguesa e espanhola foi afastada da corrida e, para mim, isso são boas notícias.
Numa perspectiva mais geral, são boas notícias que Portugal e Espanha não organizem o Mundial, como são boas notícias o facto de a escolha não ter recaído em países como a Bélgica, Holanda ou, sobretudo, a Inglaterra ou os Estados Unidos. Pessoalmente, não tenho nada contra estes países, mas parece positivo que a organização possa caber a países que ainda não tenham tido esse privilégio. Quer a Rússia, para 2018, quer o Qatar, para 2022, são duas estreias no que respeita à organização de fases finais de grandes eventos futebolísticos.
Olhando para a “derrota” numa perspectiva mais micro, fico contente que Portugal fique liberto deste compromisso. Ainda que um estudo do ISEG, divulgado esta semana, tenha garantido que Portugal não gastaria mais que os 2 milhões de euros já dispendidos com a candidatura, eu não acredito. Respeito muito os estudiosos que chegaram a estas conclusões, mas sabemos bem como são feitas estas contas em Portugal. No final, gasta-se muito mais do que era previsto. Além de que ainda não está provado que, para mim, o Euro 2004 tenha tido efeitos positivos para o turismo. Se o Mundial não teria nenhum estádio no Algarve, ainda mais dúvidas me levanta a sua viabilidade.
Além da análise da derrota portuguesa, parece-me também digna de nota a vitória da Rússia e do Qatar. E o comentário para um caso serve para o outro. Ambos os países, “derrotaram” grandes potências mundiais extra-futebol (EUA e Inglaterra); ambos os países vão organizar o Mundial com recurso ao dinheiro do petróleo (mais o Qatar que a Rússia); ambos os países são equipas modestas no mundo do futebol; mas ambos os países têm investido muito em clubes europeus, nomeadamente em Inglaterra (Manchester City, Chelsea, Liverpool, Málaga, etc.).
Em suma, para o futebol parece-me saudável que tenha sido este o desfecho das votações. Para Portugal, parece-me que foi o melhor que podia ter acontecido. Até porque agora Gilberto Madaíl já não tem desculpa nenhuma para continuar na Federação mais oito anos.
Para finalizar, apenas duas notas ainda sobre futebol. Em primeiro lugar, impõe-se reconhecer mérito ao Porto. A três jogos do fim do ano ainda não perdeu e caminha a passos largos para a conquista do campeonato. E este ano, mais que nunca, não me parece que se possa acusar a arbitragem de ter ajudado o Dragão. Em segundo lugar, uma menção a Cristiano Ronaldo. Por mais que alguns insistam em criticá-lo e colocá-lo um patamar abaixo de Messi, apesar dos 5-0 da semana passada, penso que Ronaldo está mais que ao nível do argentino, senão mesmo acima. É que enquanto Messi tem um Barcelona que joga ao seu nível, Ronaldo tem que, muitas vezes, levar a equipa às costas. 

by João Vargas
29
Nov10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Perguntas inconvenientes

Na fash interview no final do jogo entre o Beira-Mar e o Benfica, este domingo, o jornalista da TVI que entrevistava Jorge Jesus perguntava ao treinador encarnado como estava o ambiente no balneário benfiquista e se era verdade que a sua liderança era criticada. Jesus recusou-se a responder, dizendo que só falava do jogo. O jornalista da TVI, perante tal ultimato, atirou algo do género “Aqui quem decide as perguntas sou eu!”. Jorge Jesus não foi de modas e abandonou a entrevista.
Este episódio entre o jornalista da TVI e o treinador do Benfica é apenas um de muitos que ao longo dos anos têm acontecido. Não só no mundo do futebol e do desporto, mas também um pouco por toda a sociedade (recorde-se as respostas de Carlos Cruz a Rita Marrafa de Carvalho quando saía da leitura da sentença do caso da Casa Pia), tem-se tornado uma prática corrente tentar responder apenas às perguntas convenientes. Alberto João Jardim é talvez o maior ás na arte de instrumentalizar entrevistadores, mas, uns mais, outros menos, muitos são os personagens da vida pública portuguesa que vão tentando levar a sua a melhor.
No caso do futebol, todos no lembramos da tomada de posição do Porto, há uns meses, quando se recusava a responder a perguntas dos jornalista do jornal A Bola, por não gostar do que a publicação escrevia. Ou os célebre black-outs do tempo de José Mourinho, também no dragão.
Depois, há também exemplos daqueles que intervêm por sua livre espontânea vontade para fazer um pouco da sua propaganda. Um exemplo disso é Luís Filipe Vieira que, há uns anos, “invadiu” o estúdio do programa da SIC Notícia “O dia seguinte” para apresentar a sua versão sobre os factos em análise. Ou ainda outro episódio com o mesmo protagonista, em que Vieira ligou para o programa da RTP “Prós e Contras”, também para dar a sua opinião sobre a discussão.
Muitos outros exemplos poderíamos trazer para este texto, mas os apresentados são já suficientes para mostrar o fundamental: ao longo dos anos, e a partir do momento em que a liberdade de imprensa passou a ser dada como adquirida, o jornalista perdeu muito do brilho que tinha como defensor da verdade, como peça fundamental para uma democracia saudável. Hoje, os jornalistas são já vistos por muitos como meros “intrometidos” que só querem publicitar o que lhes dê mais visibilidade. E são, também, utilizados pelos actores sociais para passarem apenas as mensagens que lhes interessa (a esses actores sociais).
Porém, no futebol, como em todos os domínios, não podemos admitir que os jornalistas sejam instrumentalizados e manipulados pelos “tubarões”. Como muito bem explicou e se justificou o jornalista da TVI após Jorge Jesus abandonar a entrevista, o treinador do Benfica está habituado a responder apenas às perguntas convenientes do Benfica TV. É urgente que se acabem com tantos “Benficas TVs” que andam por aí…

by João Vargas
22
Nov10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Serão três suficientes?

Uma questão que sempre se vai debatendo no mundo do desporto, nomeadamente do futebol, é a inevitável divisão que se faz entre clubes “grandes” e clubes “pequenos”. Em Portugal, no caso do futebol, convencionou-se desde sempre que havia três clubes grandes e que os restantes seriam os pequenos. Quanto muito, lá se vai concedendo a designação de “quarto grande”, de tempos a tempos, a algum clube que morda os calcanhares aos três maiores. Mas, seja como for, não houve até hoje nenhum clube que se conseguisse de facto impor a Benfica, Sporting e Porto.
O domínio destes três clubes reflecte-se, também, nos programas de televisão sobre o tema. Ainda que cada vez haja mais programas desportivos com comentadores independentes e sem ligação a nenhum clube, nomeadamente na RTP N e na SIC Notícias, verificam-se ainda uma porção de programas que utilizam o tradicional formato de um moderador e três comentadores, um por cada clube grande.
Muito se tem criticado esta prática, principalmente por, nos últimos anos, a existência de um “quarto grande” ser cada vez mais observável. As televisões (bem como as rádios e a imprensa, a outros níveis), apesar de apresentarem formatos sem comentadores dos clubes, ainda não optaram por incluir nos painéis clubísticos um comentador do Braga, por exemplo. Contudo, por mais críticas que se façam, parece-me que esta posição das televisões tem toda a razão de ser.
Em primeiro lugar, a inclusão de um comentador para um quarto clube teria que obedecer a um critério que me parece difícil de definir, já que ainda não houve nenhum clube que conquistasse esse “título” inquestionavelmente. Além disso, incluir um quarto comentador rotativo continuaria a remeter para um segundo plano os clubes pequenos, pois não estariam no mesmo patamar que os três grandes, contando apenas com um comentador “à vez”.
Por outro lado, constituir painéis com representantes de todos os clubes é obviamente impossível e desinteressante. Nenhum telespectador teria interesse em ver um debate semanal com 16 comentadores. É importante não esquecermos que o objectivo de todos os programas é, no fundo, as audiências, condição essencial para a sobrevivência do canal de televisão. E todos somos unânimes em considerar que só os três clubes grandes dão audiência efectiva aos canais de televisão, razão pela qual só os seus jogos são transmitidos.
Podemos concluir, portanto, que o modelo de programa/debate desportivo que tem sido seguido desde sempre na televisão portuguesa é, na verdade, o único possível. Seria concebível, eventualmente, a existência de um quarto ou quinto comentador, mas apenas se um clube de facto se passasse a incluir no grupo dos “grandes” e não apenas como um clube na fronteira, sem que tenha um estatuto inquestionável.
Uma questão que não pode ser esquecida prende-se, contudo, com o que referimos quanto ao objectivo dos canais de televisão: as audiências e o lucro. A RTP, como serviço público, não tem essas condicionantes. Assim sendo, será que no canal público fazem sentido debates desportivos?

by João Vargas
15
Nov10

Segunda é o dia

Minuto Zero
O serviço público e o desporto

Os portugueses já estavam fartos de ouvir falar em crise. Depois, os jornalistas começaram a fartar-se. Finalmente, os políticos também já não têm mais nada de novo a dizer sobre este tema. Quando assim é, é preciso arranjar novos tópicos de discussão, para os políticos falarem, os jornalistas terem algo para relatar e os portugueses fingirem que se interessam. Um dos temas que, ultimamente, tem vindo à baila, ainda no rescaldo da crise e do Orçamento do Estado, é a privatização do serviço público de televisão. Esta discussão não é, em si mesma, algo de novo, mas não deixa de ser importante. Neste contexto, seria interessante pensar um bocadinho sobre o serviço público de televisão e a sua ligação com o desporto.
O tema “serviço público” nunca é pacífico, pelo que também não o poderia ser quando aplicado ao desporto. Para uns, por exemplo, é vital que os jogos da liga portuguesa de futebol sejam transmitidos pela RTP; para outros, a RTP deveria ser proibida de fazê-lo. Para uns, não faz sentido transmitir modalidade “amadoras”; para outros, essa deverá ser a função do serviço público. Para uns, o serviço público não pode, pura e simplesmente, transmitir desporto; para outros, o desporto é uma componente fundamental da sociedade e, por isso, deverá ser uma prioridade do serviço público.
Na minha opinião, a questão do serviço público de televisão é muito melindrosa e delicada. Ainda assim, penso que faz todo o sentido que seja discutida porque actualmente a RTP é um sorvedouro de dinheiro do Estado e muitas das suas despesas são precisamente com o desporto. Mas aqui reside uma das minhas interrogações: com que desporto se gasta dinheiro e com que desporto se deve gastar? E quanto dinheiro se deve gastar com o desporto?
Pessoalmente, defendo que o serviço público deverá ter, no desporto, uma postura de “serviços mínimos”, ou seja, assegurar apenas o que os operadores privados não querem ou não podem assegurar. Aliás, a legislação existente vai um pouco nesse sentido, mas não é restritiva. Por exemplo, o serviço público é obrigado a transmitir os jogos da selecção nacional, se mais nenhum canal tiver meios para isso. No entanto, a RTP não está impedida de disputar esses direitos de transmissão com os privados. Ora, isto não faz qualquer sentido, porque leva a RTP a gastar bastante dinheiro em direitos televisivos numa transmissão que, na realidade, a SIC ou a TVI queriam deter.
Por outro lado, libertando a RTP dos encargos com o futebol, haveria espaço para uma maior atenção aos restantes desportos, que actualmente estão confinados a um bloco nas tardes de fim-de-semana da RTP 2. Quanto a mim, não faz sentido que desportos como o Hóquei em Patins, o Atletismo, o Triatlo, o Voleibol ou o Andebol, entre muitos outros, em que Portugal tem tido grandes desempenhos e bons praticantes, sejam relegados para um plano muito mais que secundário. A sobrevivência destas actividades depende, na maior parte dos casos, da exposição mediática, que traz anunciantes para as modalidades. Se não for o serviço público a levá-las para a televisão, não podemos esperar que sejam os privados a fazê-lo.
Assim, é urgente que sejam revistas as prioridades da RTP no que respeita a transmissões desportivas. Quer por motivos financeiros, quer por motivos de concorrência, não faz sentido que a RTP continue a disputar direitos televisivos com os operadores privados tendo em vista apenas a conquista de audiências.

by João Vargas
08
Nov10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Um clássico, com tudo a que tem direito!

Num fim-de-semana cheio de clássicos pela Europa fora, era quase impossível escrever um texto num domingo à noite que não falasse de algum deles. Pela proximidade, o destaque tinha que ir para o clássico português.
Chegar ao intervalo e já estar a perder por 3-0 e acabar com 5-0 é muito para qualquer clube. Para um clube como o Benfica, ainda por cima sendo o campeão nacional, é de mais. Não sendo adepto de nenhum dos clubes, é possível ter uma visão um pouco mais distanciada do jogo e das polémicas. Por isso, parece-me curioso que o Benfica que, desde o início do campeonato, todas as jornadas se tenha queixado das arbitragens, saia do Dragão com um resultado tão pesado. O Porto, que se foi mantendo caladinho, foi ganhando vantagem. No dizer do Benfica, com a ajuda dos árbitros. O que é um facto inegável é que o Porto tem apresentado um futebol infinitamente melhor que o Benfica e que, quando em confronto directo, o Porto leva a melhor, por muitos, e sem polémicas de arbitragem.
Agora, o campeonato parece estar praticamente decidido. Ainda faltam vinte jornadas para o fim e o Porto pode começar a pensar na cerimónia de celebração do título. E não digo isto porque dez pontos de uma equipa sobre outra não sejam recuperáveis em vinte rondas. Nem digo isto por ser o Porto a equipa que tem os dez pontos de vantagem, já que até acredito que seja capaz de perder, senão os dez, pelo menos um sete ou oito pontos no resto do campeonato. O que, de facto, me faz crer que o Porto vai ser campeão é que não há nenhum clube que consiga não perder mais pontos até ao fim do campeonato. O Porto tem a seu favor duas variáveis fundamentais para já não ser campeão: tem que perder dez pontos e, mais difícil ainda, é preciso que o Benfica os ganhe.
No fundo, como adepto isento nesta disputa a dois (porque o Sporting há muito que está excluído), parece que é uma bela lição que os encarnados podem tirar. Entraram para o campeonato a pensar que este ano eram favas contadas. Jesus manteve a mesma postura que teve no ano passado, mas esqueceu-se que as condições mudaram: o Benfica perdeu jogadores importantes e ganhou um adversário efectivo. Não nos esqueçamos que não é só o Benfica que está pior; o Porto é que está muito melhor que na época passada.
Entretanto, inerentes a um clássico, estão sempre os casos extra-jogo que já estamos habituados a assistir. Este ano, fiquei estupefacto com a comitiva policial que recebeu o autocarro do Benfica à saída da auto-estrada. Todos os anos vemos cenas parecidas na televisão, todos os anos há críticas, mas todos os anos se repete. E todos os anos eu faço a mesma pergunta: se não se sabe ir ao futebol, por que é que se continuam a fazer jogos de futebol?
Infelizmente, este problema não é exclusivo de Benfica ou Porto nem, tão pouco, de Portugal. Mas não consigo perceber como é possível que se gaste dinheiro e recursos policiais, um bem público e pago por todos nós, apenas para permitir a violência de um bando de insubordinados. Por isso, reitero: se não se sabe ir ao futebol, acaba-se com o futebol.

By João Vargas
01
Nov10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Mais do mesmo

1. Aos poucos, o Sporting parece que começa a tornar-se uma equipa. Ainda que com muitos pormenores por afinar e que, provavelmente, já não serão resolvidos a tempo de vencer o campeonato, a equipa de Paulo Sérgio começa a ser isso mesmo: uma equipa.
Depois dos bons resultados para a Liga Europa, o Sporting apresentou um bom futebol na semana passada, no jogo contra o Rio Ave e novamente esta semana, contra a União de Leiria. Em ambos os casos, os resultados não demonstram fielmente o que foram os jogos. Ainda que não fazendo uma exibição de encher o olho, pelo menos a equipa leonina conseguiu estar por cima do adversário.
Contudo, será já tarde de mais para que o Sporting ainda vá a tempo de ser campeão. O Porto já leva um grande avanço e, mesmo depois da vitória de ontem, penso que é uma vantagem já irrecuperável. Não obstante, o Sporting continua ainda envolvido em todas as provas (Taça de Portugal, Taça da Liga e Liga Europa, além do campeonato) e tenho a esperança que, de facto, triunfe em pelo menos uma delas.

2. Entretanto, em Madrid, Cristiano Ronaldo, um produto dos leões, tem dado cartas no Real Madrid de José Mourinho. Já sabíamos que Mourinho era, de facto, o melhor, e que Ronaldo era um dos melhores, mas não basta sê-lo, é necessário parecê-lo. Para os críticos que de tempos a tempos se lembram de atacar o jogador, eis a reposta. Uma série de jogos a marcar golos importantes (como os dois que deram a vitória ao Real sobre o Hércules, já nos últimos cinco minutos) e a fazer assistências decisivas.
Na Selecção Nacional, Ronaldo tem também voltado à boa forma e aos golos. Continua a haver muitos pseudo-críticos que insistem em manter uma opinião desfavorável sobre o jogador. Porém, penso que não faz sentido, perante os últimos meses, dizer que Ronaldo não é o melhor jogador português. Espero vivamente que Ronaldo mantenha a boa forma, não só para ajudar a equipa nacional no apuramento, mas também para silenciar aqueles que continuam a criticá-lo.

3. Nos últimos tempos têm surgido também notícias de eventuais fraudes na escolha dos países para organizar os Mundiais de 2018 e 2022. Dois membros do comité de eleição já foram suspensos e acusados e algumas candidaturas estão a ser investigadas, entre as quais a de Portugal. Já sabemos que no futebol, como em quase todos os desportos, os tráficos de influências são um hábito comum. Todavia, não podemos deixar de nos indignar com tantos casos de corrupção no desporto a que recorrentemente assistimos.

4. Motivo de celeuma em Portugal continua a ser as arbitragens. Os grandes insistem, de tempos a tempos, a criticá-las. Neste momento, a iniciativa pertence ao Benfica. Não adianta criticarmos este ou aquele clube porque, no fundo, a certo momento, todos fazem o mesmo. Mas é preciso fazer alguma coisa no desporto, em especial no futebol, para acabar com as suspeições crónicas. O problema não é só português, mas pelo menos a nossa parte podemos resolvê-la.

by João Vargas
25
Out10

Segunda é o dia

Minuto Zero
Por amor à camisola

Numa semana em que o futebol monopolizou a atenção de grande parte dos amantes de desporto em Portugal, com os jogos das equipas portuguesas nas competições europeias, alguns acontecimentos acabaram por passar despercebidos. Mas são essas conquistas de atletas portuguesas que, na verdade, dão outra alma ao desporto e de que importa falar.


Esta semana ficou a saber-se que Bruno Pires, antigo campeão nacional de ciclismo de estrada, vai juntar-se aos irmãos Frank e Andy Schleck na nova equipa de ambos, com base no Luxemburgo. Mais uma boa notícia para o ciclismo português que vê, assim, mais um atleta a internacionalizar-se. Se, em Portugal, o investimento na modalidade tem sido cada vez menor, no estrangeiro continuam a existir grandes patrocinadores a financiar grandes equipas e alguns ciclistas portugueses têm conseguido aproveitar para melhorarem as suas performances.

No ténis de mesa, Tiago Apolónia conquistou esta semana o Open da Áustria, ao derrotar Timo Boll, que é considerado o melhor do mundo na modalidade. O jovem atleta formado no Estrela da Amadora e que se tornou profissional na Alemanha, conseguiu recuperar de uma desvantagem de 3-1 para acabar por vencer por 3-4. Apesar da vitória, que deveria encher de orgulho todos os portugueses, é importante realçar que o ténis de mesa é uma das modalidades com menos apoio em Portugal e que, para este torneio, Tiago Apolónia não contou sequer com a companhia de qualquer treinador da selecção nacional.

Estes dois exemplos provam como o desporto vai muito mais além do futebol. As grandes vitórias, no fundo, não são só aquelas que dão maior visibilidade a um país ou clube, mas principalmente aquelas que, pela sua dificuldade, levam ao rubro os adeptos. Por exemplo, no campo do futebol, terá muito valor o Inter de Milão ter vencido a Liga dos Campeões no ano passado. Mas não terá Mourinho sentido muito mais prazer e uma alegria muito maior quando conseguiu a conquista com o Porto, um clube muito mais pequeno e com muito menos recursos?

A vitória de Tiago Apolónia, por exemplo, parece-me ainda mais meritória na medida em que teve que contar quase só consigo mesmo para o conseguir. Tal como as vitórias de Sérgio Paulinho, Tiago Machado, Manuel Cardoso e Rui Costa, no ciclismo, são consequência apenas do seu mérito próprio e/ou do investimento que equipas estrangeiras fizeram nos atletas. Tanto no caso destes quatro ciclistas, como no caso de Tiago Apolónia, João Monteiro e Marcos Freitas (que actualmente jogam ténis de mesa na Alemanha), o sucesso é reflexo do trabalho realizado fora de Portugal e, muitas vezes, com elevado esforço pessoal.

Eu sei que estamos fartos de textos que apelem a uma maior defesa das pequenas modalidades. Mas cada pequena vitória que um atleta luso consegue numa grande competição é, para mim, mais um motivo para continuar a apelar. Se há pequenos países que conseguem ter grande expressão em diversos desportos, por que é que Portugal não consegue?

Em tempos de crise económica, não é altura de pedir mais dinheiro para o desporto nem de exigir a construção de infra-estruturas. Mas, para memória futura, fica o apelo para que, quando possível, se comecem a redireccionar fundos para longe do futebol e a aplicá-los nos atletas que realmente se esforçam por amor à camisola e à modalidade.

By João Vargas
18
Out10

Segunda é o dia

Minuto Zero
A crise toca a todos


Na semana passada realizou-se, como se sabe, a Assembleia Geral do Sporting. Além da elevada percentagem de votos contra o Relatório e Contas apresentado pela direcção (mais de 30%), o grande acontecimento desse dia foram os desacatos e cenas de violência entre os adeptos presentes. Não existem imagens do sucedido e apenas se conhece a história segundo as versões de alguns adeptos que falaram com a comunicação social mas, seja como for, é certo que algo se passou.

Assembleias Gerais com cenas de pancadaria não são propriamente uma novidade. Mas, é um facto, não aconteciam há muito tempo em Portugal. O que é que motivou este episódio? Numa análise muito rápida somos tentados a culpar o mau desempenho desportivo do Sporting e a alegada má gestão de Bettencourt. Contudo, eu penso que o que aconteceu na AG do Sporting é apenas um reflexo do que se vive um pouco por todo o país.

E não é só a AG que ilustra o que digo. O apelo da direcção do Benfica para os adeptos não assistirem aos jogos fora de casa, por exemplo, é também um exemplo de que, em Portugal, anda tudo com os nervos à flor da pele. Somos um pouco um barril de pólvora que, com uma qualquer pequena acha, corre o risco de rebentar.

Não digo que a culpa dos desacatos na AG do Sporting tenha sido exclusivamente da crise e do nervosismo generalizado que se vive entre os portugueses. Mas não tenho dúvidas nenhumas que foi um grande contributo. E o que se passou com o Benfica é, também, um reflexo disso. Nos momentos de crise, é inevitável procurar um refúgio algures e algum alvo em que descarregar as frustrações. Para os sportinguistas, Bettencourt surgiu como o alvo perfeito.

Eu não sou o maior fã de José Eduardo Bettencourt. Muito pelo contrário, acho até que tomou algumas medidas que critico veementemente. Contudo, não nos podemos esquecer que assumiu a presidência do Sporting numa altura muito complicada, em que falta tudo a esta equipa: dinheiro, resultados, jogadores, união. Infelizmente, o Sporting não tem uma massa adepta como, por exemplo, o Benfica para quem o clube será sempre o melhor, por mais jogos que perca. Os adeptos do Sporting são, por um lado, muito mais conformados com a derrota e, por outro, muito mais dispostos a “revoltas”. A prova disso é que, no Benfica, mudam os treinadores mas fica o presidente; no Sporting, os presidentes quase que acompanham os treinadores.

A mística que se diz existir em torno do Benfica não é, na verdade, tão disparatada quanto isso. Eu não lhe chamaria mística, mas a verdade é que os adeptos do Benfica são muito mais benfiquistas que os adeptos do Sporting são sportinguistas. Por isso, se o Bettencourt hoje viesse apelar aos seus adeptos para não entrarem nos estádios dos adversários, ninguém o levaria a sério.

Não obstante, não aplaudo nem o apelo do Benfica nem os desacatos na AG do Sporting, por muitos motivos que direcção e/ou sócios possam ter. Mas hoje resolvi abordar este tema por um motivo muito simples e que exponho em forma de pergunta que, sendo retórica, aguarda respostas: se todo o empenho e envolvimento que se tem quando se trata de futebol (seja das direcções, seja dos adeptos) fosse direccionado para problemas que de facto interessam ao país e não apenas para discussões de vão de escada, não daríamos um grande passo para a saída do estado a que chegámos?

by João Vargas