Porque a vida também é feita a correr...
A qualidade não tem idade... (Scholes-Henry)
Na semana passada regressaram aos relvados ingleses dois, dos maiores extraordinários futebolísticas da pretérita década. Cada vez que um grande jogador se retira dos relvados a saudade invade a alma de todos os amantes mesmo antes do término do jogo. Estamos perante uma peça onde o actor principal vai deixar-nos, deixando o elenco e a história mais pobres, sem tanta razão de existir. Uma nostalgia que transcende qualquer clubite ou preferência. Porque independente dos estilos de jogo, um adepto de futebol quer é ver os melhores executantes em campo. Aqueles que se destacam, aqueles que nos surpreendem, aqueles que são diferentes... Aqueles em que um leigo vê jogar e diz que é diferente, mesmo sem explicar porquê... Porque no toque, criatividade, movimento, posicionamento, coordenação são mais rápidos e inteligentes que os outros, dão uma dinâmica ao jogo acelerada, mas fundamentalmente dão critério e razoabilidade ao jogo, transportando-o para uma tónica lógica proporcionando aos colegas um maior enraizamento táctico. Em situações diferentes, em contextos diferentes, em especificidades técnicas diferentes Scholes e Henry deixaram um enorme vazio nos relvados do Mundo do futebol. O primeiro porque pendurou as chuteiras aos 36 anos o segundo porque trocou o protagonismo dos relvados pelo hollywoodesco futebol americano, numa nova concepção de estrela...
Ambos deixaram um enorme legado... Ambos possuem a tal transcendência que motoriza toda a esquematização duma equipa, ambos mesmo querendo descer a passadeira de glória imortalizada ao longo de anos e anos a fio de mediatismo Mundial, mesmo querendo descansar da pressão a que estão sujeitos, veem-se obrigados a regressar ao seu palácio de conquistas...
Num futebol cada vez mais exigente e competitivo, onde a técnica e a capacidade física se intersectam de forma permanente, dando uma velocidade e agilidade ao jogo nunca antes problematizada, enraizando-a ainda num novo complexo e rigoroso esquema táctico parece que não à espaço para aqueles que estão fora da idade padrão futebolística. A completude que se exige pretende aliar um conjunto de características físicas, técnicas e psicológicas que devido a toda esta imperativa aglutinação tende a encurtar a carreira dum jogador...
Contudo a genialidade, a inteligência, a imprevisibilidade, a frieza são características inatas, que mesmo que desaliadas num protótipo físico de outrora conseguem face ao catapultar da experiência superir todas as fragilidades enunciadas.
Por isso talvez com um pouco mais de esforço físico, com um pouco mais de suor e cansaço Henry e Scholes regressem agora ao climáx das suas carreiras...
Mas a qualidade, essa se associada a uma mentalidade ganhadora não se perde com a imediatez que o futebol moderno pretende, essa continua lá por isso Henry me deu a analepse dos meus 12/13 anos em que o via no Highbury Park fazer aqueles remates em desvio... Por isso o controlo, gestão e organização de Scholes contribuiram de forma decisiva para a desforra duma batalha citadina que ainda está longe de terminar... Os génios não envelhecem... Mas mais importante é perceber que a sua mentalidade rejuvenescida ainda nos vai dar novos actos de peças que julgávamos já encerradas...