O fracasso do futebol de elite (na era do investimento)
André Villas-Boas e Domingos Paciência, finalistas da última edição da Liga Europa, terminaram a época passada afirmando-se como certezas, enquanto treinadores de top, não só a nível nacional mas também a nível internacional.
A mudança de paradigma de treinador nacional, cimentada por José Mourinho veio dar novas oportunidades aos treinadores portugueses. Contudo a velocidade dessa mudança foi rápida demais, não respeitando todos os processos de transição que uma mutação como esta acarreta.
De feitos heróicos, treinadores endeusados e promessas rotuladas de sucesso vemos a presente época como um enorme fracasso, que mesmo para todos aqueles que desconfiavam do valor dos referidos técnicos (o que não é o meu caso), mal podiam prever um cenário tão pessimista.
Apesar da mentalidade renovada que deram ao futebol Nacional, da eficácia que as suas ideias produziram nas equipas que orientaram nem tudo foram rosas. O principal problema da sua juventude não é capacidades técnicas ou tácticas mas simplesmente de gestão de carreira.
Comecemos por André Villas-Boas… O ex-adjunto de Mourinho, por muito que o tente negar, por muito que tente fugir, apenas constrói a sua carreira devido ao seu mestre. Por muito que o discípulo se tente emancipar do mestre parece que o caminho os entrecruza dando ao discípulo uma posição invariavelmente ingrata. Se ir para o Futebol Clube do Porto é uma decisão normal de cada treinador português; aceitar o convite do Chelsea não é mais do que não querer modificar o seu próprio destino determinado. Os novos olheiros do futebol internacional olham em Villas-Boas um novo Mourinho e por isso tanto Chelsea como Inter manifestaram interesse na sua contratação, visto que esperam que ele alcance o mesmo que o melhor Treinador do Mundo.
Apesar de toda a epopeia transacta do Futebol Clube do Porto a época passada foi escassa em duros testes para a equipa invicta. Fora do panorama Nacional o Sevilla e o Villareal foram as melhores equipas que o Futebol Clube do Porto defrontou e em ambas os dragões não conseguiram fugir sem perder, tendo mesmo no jogo com o Sevilha suspirado pelo apito final. Não está em causa o sucesso do Porto, mas simplesmente a equipa não foi testada perante tubarões do futebol europeu e a capacidade do seu Treinador jamais pode ser endeusada por eliminar Sevilha (que até o Braga eliminou de forma mais veemente) e Villareal (que este ano está a fazer uma época miserável).
O que sobra em talento e capacidade falta em planeamento e gestão em Villas-Boas. A missão Chelsea destinava-se como um fracasso autêntico, só não via quem não queria ver. Com uma equipa ainda à margem de Mourinho, Villas-Boas quis dar uma lufada de ar fresco, introduzindo as suas ideias e dando um cunho pessoal à equipa. Mata, Sturridge, Oriol Romeu e Raúl Meireles são exemplos dessa mutação. Contudo, Malouda, Kalou, Drogba, Torres, Anelka, Lampard, Ashley Cole, Essien continuaram todos nos blues. Não é fácil prever a colisão de dois pólos amplamente antagónicos no seio duma mesma equipa.
Por muito dinheiro que Abromovich esteja disposto a gastar em nada vai melhorar o rendimento da equipa londrina, enquanto não matar todos os fantasmas de Mourinho. Os problemas de balneário e a dificuldade em seguir um modelo de jogo são as consequências óbvias. A grande pergunta que faço é: E então agora André? Queres fugir mas não te podes esconder… Quer fugir de Mourinho, mas o fracasso do Chelsea vai-lhe perseguir a carreira e no vs estipulado pela comunicação social sai irremediavelmente a perder…
Villas-Boas preferiu o caminho mais fácil, o caminho dos milhões, da elite, em vez de abraçar um projecto que estava a ser construído por si que tinha muito mais probabilidades de ter sucesso internacional que o Chelsea.
Domingos Paciência ainda era uma incógnita, uma vez que nas duas épocas ao serviço da equipa bracarense nunca conseguiu na plenitude concretizar os seus objectivos. Uma vez que na primeira época ficou arrecadado da Europa em Julho, podendo descansar os seus jogadores durante todo o ano, lutando assim pelo título com o Benfica. Já na segunda época os papéis inverteram-se. Uma carreira europeia fantástica, mas um campeonato absolutamente medíocre (rapidamente esquecido pela comunicação social).
Contudo, Domingos era a peça chave de António Salvador. O treinador ideal para a equipa ideal. A construção duma identidade de jogadores simultaneamente virtuosos e carregadores de piano permitiu ao Braga redimensionar as suas expectativas e crescer tanto como equipa como Clube.
Com um balneário unido, uma cidade agora em prol do clube e uma onda bracarense cada vez mais em ascensão Domingos tinha tudo para continuar a semear o upgrade desta equipa, mas mais uma vez preferiu o caminho mais fácil.
Preferiu ir ganhar mais dinheiro… Acreditar numa equipa que investiu 25 milhões, mas mais uma vez quis dar um passo maior que a perna. Não porque como no caso de Villas-Boas, esteja a copiar a carreira de alguém, mas sim porque o Sporting é um clube em falência não técnica mas desportiva. Comemora em 2014, o 60º aniversário da conquista do último bicampeonato. Com uma estrutura arcaica a grande base de apoio da equipa leonina é a elite. Se até aos anos 50 anos, fruto da pouca importância do futebol no contexto social de Portugal permitiu ao Sporting dominar o futebol português, a massificação e proliferação do interesse permitiu ao grande rival da segunda circular, Benfica difundir a sua massa. O Sporting não foi renovando ideias, não se foi adaptando ao contexto social do futebol e foi perdendo adeptos e sócios, tendo no momento presente apenas cerca de 40% dos sócios do seu eterno rival. Com uma péssima estrutura directiva e sem uma ideia de mutação o Clube está destinado ao fracasso. Se o Homem precisa de causas para se mover, falta definir a causa sportinguista que permita ao clube reentrar no panorama Nacional. Uma causa política, não desportiva. O discurso é pomposo na forma e vazio de conteudo, o que destina um fracasso previsível.
Domingos não conseguiu entender os problemas estruturais do Sporting e perceber que é impossível fazer algo duma equipa que não tem bases para crescer… Não soube gerir os maus, mas sobretudo bons momentos e vê-se ultrapassado pelo seu Braga com condições económicas e de massa associativa claramente inferior. Domingos não soube homogeneizar um plantel para um objectivo comum, começando a época com uma clara divisão ente o passado e o presente da equipa. Atribuindo a titularidade a jogadores como Postiga e Djálo que depois saíram do clube e perdendo nas primeiras três jornadas estupidamente 7 pontos, quando todas as experimentações deveriam ter acabado na pré-época. Aqui como Villas-boas, não soube enquadrar-se no plantel que tinha e se hoje se queixa da heterogeneidade de nacionalidades e nas condições que os jogadores vivem (com a namorada, sem sustento familiar), ele é o grande culpado, ao ser ele o selector dessas escolhas.
No tempo de aceleração de movimento de capitais, do imediatismo, do sucesso fácil e rápido a estrutura mais uma vez vem nos mostrar que está primeiro e sempre estará com investimento, sheikes ou o que quiserem falar.
Porque afinal o futebol é do povo e não das elites…