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Minuto Zero

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

Minuto Zero

01
Mar12

Buzzer Beater

Óscar Morgado

Os meios vazios e os meio cheios

 

Acabado o fim-de-semana All-Star, estamos a meio da época regular da NBA. Parece estranho dizê-lo no início de Março, quando só há pouco mais de dois meses tem havido acção entre as tabelas dos profissionais norte-americanos. E como se trata de um dos raríssimos períodos de descanso para as equipas nesta liga encurtada mas intensa, parece-me correcto ligar a bola de cristal e lançar as cartas para a mesa, num pouco frutuoso exercício de futilidade de previsões. E como estamos a meio, vou escolher 4 equipas de cada Conferência, 2 que espero que melhorem na segunda metade e 2 que espero que desçam de rendimento significativamente: meio-cheios e meio-vazios.

 

Conferência de Este

 

Meio-Cheios:

 

 

- New York Knicks: estes são claramente os mais fáceis, pelo menos com os dados que se têm até ao momento. Com um 5 inicial que parece estar finalmente completo e mais equilibrado do que quando a época começou, graças à performance de Jeremy Lin, que tem pela frente a árdua tarefa de dividir a bola entre Anthony e Stoudemire, ambos com performances medíocres em relação a anos anteriores. Um bom base poderá ser a solução para levantar aquele que pode ser um 'fantastic five', considerando Tyson Chandler no poste e Landry Fields no base-extremo. De resto continuo a considerar que este não foi um plano cautelosamente deliberado para ter sucesso, mas antes uma estrelinha da Broadway que brilhou em favor da equipa e lhes proporcionou, a preço de salto, um base de qualidade. O treinador Mike D'Antoni já levou os Phoenix Suns às finais do Oeste, e se tivermos em conta que os Knicks estão neste momento em 8º lugar no Este, parece-me que estão a lutar por um lugar no 'top 5' da Conferência. Quem diria. Sorte. Muita sorte.

 

- Detroit Pistons: num espectro bem mais modesto, sem um terço dos recursos, os Pistons começam a ver o que as suas sementes podem vir a produzir um dia mais tarde. Greg Monroe atingiu recentemente a barreira do duplo-duplo nas suas médias para esta época, mostrando-se um jogador com grande inteligência, uma máquina ressaltadora, e com muita técnica ofensiva debaixo do cesto; Brandon Knight vai provando a força dos produtos da Universidade de Kentucky, afirmando-se desde já como o base do futuro. O cada vez mais posicionalmente híbrido Rodney Stuckey parece não se estar a dar assim tão mal com a polivalência entre as duas posições exteriores, e o sueco Jerebko vai compensando o tempo perdido a época passada devido a lesão. Não acredito que cheguem aos playoffs, mas há potencial já nesta época para chegar perto do 9º lugar. Pode parcer parcialidade por torcer por eles, mas que lá está um bom plano para os próximos anos, está.

 

Meio-Vazios


- Orlando Magic: também parece ser razoavelmente fácil, dado que a saída de Dwight Howard está iminente, e esta equipa seguramente irá sofrer desaires semelhantes aos New Orleans Hornets quando perderam Chris Paul. A não ser que a moeda de troca pelo melhor poste da actualidade seja equivalente (do tipo de pechincha que os Nuggets conseguiram a época passada por Carmelo Anthony). Ainda assim, há uma probabilidade de Howard não sair na data limite das transacções, se nenhuma das equipas que este deseja (e com as quais, por conseguinte, renovaria o seu contrato, que termina no final da época) conseguir segurar a venda com um pacote de jogadores e escolhas de draft atractivo para Orlando. Se Dwight sai, os Magic descem para o fundo dos lugares ao playoff, até fora dele na pior das hipóteses. Se ele fica, continuam bons este ano, e resta-lhes fazer magia para o próximo.

 

- Boston Celtics: aqui a questão das trocas torna-se determinante também. Porque o director-geral Danny Ainge parece decidido a trocar Rajon Rondo, a era do já desgastado 'Big Three' de Garnett, Pierce e Allen está mais próxima do fim do que nunca. Mas com a corrida a Chris Paul já fechada e a de Howard muito mal parada para Boston, pergunto-me o que terá esta organização em mente ao querer separar-se do seu valor mais jovem e seguro, não sabendo bem ao certo aquilo que poderá trazer de volta do mercado. E irão manter Garnett e Allen para as próximas épocas com salários mais modestos? Ao final de contas, se Rondo sai, o 7º lugar de Boston no Este está ameaçado.

 

Conferência de Oeste

 

Meio-Cheios

 

- Minnesotta Timberwolves: vão estar a desafiar para um lugar no playoff, tenho certeza disso. Com Kevin Love a candidatar-se para MVP este ano, um quase certo All-Star no futuro em Ricky Rubio, jogadores de alto potencial como Wesley Johnson e Derrick Williams, e até parecem ter encontrado um substituto viável para Darko Milicic em Nikola Pekovic, que tem jogado muito bem com Love, a maioria das peças estão lá. O único senão é a competição no 'deep West' é duríssima. De entre Houston, Memphis ou Denver está o candidato a alvo dos T-Wolves.

 

- Portland Trailblazers: são a equipa mais azarada dos últimos anos, com Houston como um distante segundo. Como se não bastasse Greg Oden simplesmente não parecer ter joelhos para a NBA, Brandon Roy reforma-se devido a problemas semelhantes e os desejos de título, que com esses dois e Aldridge seriam bastante palpáveis, tiveram que ser adiados. Mas apenas um adiamento diga-se. Continuam a ter uma equipa com todas as posições sólidas para os próximos anos, à excepção de poste, que, apesar de Camby estar a produzir, tal como um profissional deve fazer, está assustadoramente perto das 40 primaveras. Mesmo com Jamal Crawford, base-extremo de raiz a jogar no 5 inicial a base substituindo Raymond Felton, que não tem estado à altura das suas capacidades, o ex-Knick-Bobcat et al., tem as ferramentas para conduzir esta equipa, e só se outro desastre os assolar é que não conseguirão passar do actual 9º lugar. Ainda assim, mantém-se forte a competição.

 

Meio-Vazios

 

- Pois, esta conferência é muito forte! Não vejo nenhum nome que mereça estar aqui especialmente. Mesmo sem Billups, não se antevê uma queda vertiginosa para os Clippers, que procuram manter-se, no máximo, dentro dos 3, 4 primeiros do Oeste. Os Lakers, uma vez neste grupo também, não devem descer, salvo alguma lesão grave. Só talvez Dallas, Memphis e Houston estão mais vulneráveis, mas muito mais devido à competição das equipas imediatamente abaixo do que a falhas de cada um destes grupos.

 

 

22
Dez11

Buzzer - Beater

Óscar Morgado

Uma triste história

 

Mal tinha começado a época 2008/2009 da NBA e já uma equipa que fez dinastia na década que ia a acabar estava a renovar o plantel, que envelhecia gradualmente: os Detroit Pistons trocavam o experiente base Chauncey Billups pelo igualmente experiente Allen Iverson (mas menos estável em termos de personalidade). Billups contribui para dar a Detroit um campeonato em 2004 e umas quantas presenças nas Finais nos anos seguintes, mas o seu contrato pesava imenso nas contas da Cidade Automóvel. Iverson vinha de uma boa prestação em Denver, abaixo dos padrões que estabeleceu nas sua época de MVP e algumas seguintes em Philadelphia, mas compreensível com a idade.

 

Mas Billups não estava a sair pela porta dos fundos do clube: Detroit precisava de algumas remodelações e um base do pior lado dos 30 com um contrato que Detroit não podia acartar com objectivos de remodelação parecia aceitável. Aliás, Billups ia para Denver, a sua terra natal, onde possivelmente se iria reformar. Acabou por ser nas épocas seguintes a segunda opção na equipa, complementando o prolífico marcador da equipa, Carmelo Anthony. Mas o precedente estabelecido na época passada por Lebron James, Chris Bosh e Dwayne Wade, em que os três negociaram entre si contratos mais pequenos que lhes permitiam coexistir financeiramente no mesmo clube mudou a mentalidade de muitos jogadores e dirigentes. Os três passariam de astros a uma forte constelação.

 

Então outros jogadores começaram a seguir o exemplo, começando por Anthony: via que em Denver não iria conseguir o talento suficiente atrás de si para competir por um título e tratou de requisitar uma troca. Acabou por ir parar aos New York Knicks, onde outro astro, Amare Stoudemire, jogava. Mas como as equipas negoceiam entre si, e a NBA, como se tem visto ultimamente, pouco é mais do que um negócio, essa transacção iria incluir outro jogador de qualidade para Nova Iorque, dado que essa esta equipa, apesar de ir receber uma estrela, não queria perder todas as suas jovens promessas. Então Billups veio. Meio da época, jogador com 34 ou 35 anos, são-lhe retirados os planos de uma tranquila reforma daqui a poucos anos. Aborrecido, até acabou por ir na conversa porque ia para uma equipa para desafiar um título no ano seguinte.

 

Mas os Knicks sonham alto. Vindo um lockout prolongado, tiveram tempo para pensar nas opções. E afinal Billups nada mais era do que uma casualidade para obter Anthony, com um (ainda) grande contrato para 2010/2011 que lhe pagaria 14M, que estrangulava o tecto salarial dos ianques. Como os postes fazem falta nos dias que correm, e Nova Iorque não tinha nenhum capaz para os seus objectivos, e bases, apesar da importância da posição, há muitos, Billups foi novamente moeda de troca: é-lhe usada a cláusula de amnistia para retirar o contrato das contas de Nova Iorque, e o veterano foi parar aos 'waivers', uma espécie de leilão em que qualquer clube pode pegar nos jogadores colocados à disposição por outras equipas, vencendo quem fizer a melhor oferta.

 

Os LA Clippers, tendo já um negócio fantástico que lhes trouxe aquele que é na minha opinião o melhor base da liga, Chris Paul, presisavam de um atirador para o perímetro, e Billups, apesar de ser outro base, tinha as características necessárias. Mesmo depois de o jogador ter ameaçado não jogar se não pudesse escolher a equipa para onde iria (pensa-se que, traído por tantas organizações, o base quisesse fazer o melhor da situação e juntar-se aos Miami Heat, tornando a constelação a mais absoluta favorita ao título deste ano), os negócios apanharam-no.

 

Moral da história? Tal como Billups, Lamar Odom dos Lakers foi uma mera peça de negócio, apesar dos títulos e da coesão de balneário que trouxe à sua equipa ao longo de tantos anos como profissional da casa. O mesmo vai acontecendo com Brook Lopez, que vai sendo constantemente avaliado pelo seu valor de mercado para ser trocado com Dwight Howard, que também quer sair de Orlando. Ou até Rajon Rondo, que se falava ser parte de um pacote por Chris Paul antes de se confirmar o negócio com os Clippers. E assim as relações já tremidas que existiam entre os jogadores e os dirigentes na época passada e algumas anteriores caíram completamente por terra após o lockout. Hoje, just business. Sendo provavelmente os assalariados mais bem pagos e com mais regalias de todo o planeta, os jogadores da NBA conseguiram manter muito tempo uma posição de vantagem sobre os donos, mas, sendo estes que pagam as contas, acabaram por sucumbir a algumas exigências. Mas como toda a gente tem que ceder, os problemas que já existiam mantém-se quase inalterados, e garanto-vos que assim que este acordo salarial (que dura no máximo dez anos, não sei precisar) terminar haverá outra paragem de trabalho, porque os problemas ir-se-ão manter: jogadores medianos com salários de estrelas, prejuízos para equipas de cidades mais pequenas, and so on. Todas estas transações na hora, total desrespeito pela estabilidade dos jogadores, mas também o poder desmedido que alguns desses jogadores têm de, simplesmente, tornar equipas reféns das suas decisões ou exigências são um mero resultado de um lockout como este foi, prolongado, marcado por decisões economicistas para os dois lados, bem como alguma arrogância. Your bad jogadores, your bad, dirigentes.