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Minuto Zero

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

Minuto Zero

22
Mar12

Buzzer Beater

Óscar Morgado

The Broadway Story - Capítulo II

 

Quem segue as minhas entradas semanais por estas bandas sabe que eu não gramo os New York Knicks. Sempre sob as luzes da ribalta da Big Apple, com uma organização que há mais de uma década só parece querer fazer dinheiro e não ganhar campeonatos, e sempre a estragar planos maiores, sem qualquer tipo de estabilidade, funcionado por luas. Enfim, por alguma razão sou adepto dos Detroit Pistons, sempre consistentes com os seus valores de defesa e trabalho duro primeiro, recompensa depois. Estão numa má posição há meia dúzia de anos, tendo atingido o fundo na última época em termos de coesão. Mas há um projecto consistente, ainda que lento, de reconstrução do plantel. Os Bulls são outra equipa que admiro nos dias que correm, por funcionarem numa filosofia de trabalho de equipa, algo semelhante, só que com muito mais talento.

Mas para quê a declaração de interesses? Há uns dias Mike D'Antoni despediu-se da direcção técnica da equipa, após 4 anos algo turbulentos. Na época passada, com aquilo que parecia ser uma boa restruturação da equipa, com boas escolhas de draft e uma forte contratação de Amar'e Stoudemire e Raymond Felton no Verão de 2010, o dono, Jim Dolan, voltou a estragar tudo dando demasiado desse talento construído para trazer Carmelo Anthony e Chauncey Billups de Denver (o último que acabou por ser dispensado para haver tecto salarial para contratar o poste Tyson Chandler). E a novela dos Knicks continuaria, a química nunca apareceu. Mas apareceu Jeremy Lin, base vindo do nada, e deu 7 vitórias seguidas à equipa, ainda sob o comando de D'Antoni, pondo todo aquele talento a render e a funcionar. Porém viu-se que foi sol de pouca dura. Considero que Lin não é um one-hit wonder, e será um base muito competente para liderar o ataque dos Knicks nos próximos anos (e seria um bom base noutras equipas), mas não roça ainda a elite da posição na NBA. Resta saber se, apenas no seu segundo ano como profissional, qual será o seu tecto, como poderá evoluir como jogador. Eu se estivesse à frente dos Knicks aproveitava enquanto não tinha que lhe pagar um salário chorudo. Mesmo assim, poderá nunca ser um dos melhores na posição. Adiante.

Então há aqui peças para funcionar, muitos pagariam caro (os Knicks inclusive pagam) para ter tanto talento num só plantel: Anthony, Stoudemire, Chandler, Fields, Lin, Smith, Davis, Shumpert, etc. E agora eles voltaram a jogar bastante bem, ganhando 5 jogos consecutivos sob a tutela do treinador que sucedeu a D'Antoni, Mike Woodson. Estão mais concentrados na defesa, e parecem mais satisfeitos com o sistema do novo treinador, em detrimento do antigo sistema orientado quase só para acções ofensivas, executadas rapidamente.

Mas! Jeremy Lin também causou um sucesso tremendo (que fica sempre exponencializado pelos exageros Nova Iorquinos) e viu-se que, para já, é 'apenas' um jogador com talento e relativamente sólido, não um All-Star da noite para o dia. E Nova Iorque não será uma equipa da noite para o dia, mas precisam de alguma continuidade e consistência para lá chegar. Poderão escalar alguns lugares de playoff, pois o potencial também lá estava da última vez que tiveram um bom momento, mas é sempre a 'same old Broadway Story'. Precisam de acalmar os egos e construir uma equipa a sério para ser tomados também a sério, e só assim voltarão às formulas de campeonatos, o último dos famosos Walt Frazier, Willis Reed, Dave DeBuschere e Jerry Lucas.

Qual será o próximo capítulo dos Knicks?

01
Mar12

Buzzer Beater

Óscar Morgado

Os meios vazios e os meio cheios

 

Acabado o fim-de-semana All-Star, estamos a meio da época regular da NBA. Parece estranho dizê-lo no início de Março, quando só há pouco mais de dois meses tem havido acção entre as tabelas dos profissionais norte-americanos. E como se trata de um dos raríssimos períodos de descanso para as equipas nesta liga encurtada mas intensa, parece-me correcto ligar a bola de cristal e lançar as cartas para a mesa, num pouco frutuoso exercício de futilidade de previsões. E como estamos a meio, vou escolher 4 equipas de cada Conferência, 2 que espero que melhorem na segunda metade e 2 que espero que desçam de rendimento significativamente: meio-cheios e meio-vazios.

 

Conferência de Este

 

Meio-Cheios:

 

 

- New York Knicks: estes são claramente os mais fáceis, pelo menos com os dados que se têm até ao momento. Com um 5 inicial que parece estar finalmente completo e mais equilibrado do que quando a época começou, graças à performance de Jeremy Lin, que tem pela frente a árdua tarefa de dividir a bola entre Anthony e Stoudemire, ambos com performances medíocres em relação a anos anteriores. Um bom base poderá ser a solução para levantar aquele que pode ser um 'fantastic five', considerando Tyson Chandler no poste e Landry Fields no base-extremo. De resto continuo a considerar que este não foi um plano cautelosamente deliberado para ter sucesso, mas antes uma estrelinha da Broadway que brilhou em favor da equipa e lhes proporcionou, a preço de salto, um base de qualidade. O treinador Mike D'Antoni já levou os Phoenix Suns às finais do Oeste, e se tivermos em conta que os Knicks estão neste momento em 8º lugar no Este, parece-me que estão a lutar por um lugar no 'top 5' da Conferência. Quem diria. Sorte. Muita sorte.

 

- Detroit Pistons: num espectro bem mais modesto, sem um terço dos recursos, os Pistons começam a ver o que as suas sementes podem vir a produzir um dia mais tarde. Greg Monroe atingiu recentemente a barreira do duplo-duplo nas suas médias para esta época, mostrando-se um jogador com grande inteligência, uma máquina ressaltadora, e com muita técnica ofensiva debaixo do cesto; Brandon Knight vai provando a força dos produtos da Universidade de Kentucky, afirmando-se desde já como o base do futuro. O cada vez mais posicionalmente híbrido Rodney Stuckey parece não se estar a dar assim tão mal com a polivalência entre as duas posições exteriores, e o sueco Jerebko vai compensando o tempo perdido a época passada devido a lesão. Não acredito que cheguem aos playoffs, mas há potencial já nesta época para chegar perto do 9º lugar. Pode parcer parcialidade por torcer por eles, mas que lá está um bom plano para os próximos anos, está.

 

Meio-Vazios


- Orlando Magic: também parece ser razoavelmente fácil, dado que a saída de Dwight Howard está iminente, e esta equipa seguramente irá sofrer desaires semelhantes aos New Orleans Hornets quando perderam Chris Paul. A não ser que a moeda de troca pelo melhor poste da actualidade seja equivalente (do tipo de pechincha que os Nuggets conseguiram a época passada por Carmelo Anthony). Ainda assim, há uma probabilidade de Howard não sair na data limite das transacções, se nenhuma das equipas que este deseja (e com as quais, por conseguinte, renovaria o seu contrato, que termina no final da época) conseguir segurar a venda com um pacote de jogadores e escolhas de draft atractivo para Orlando. Se Dwight sai, os Magic descem para o fundo dos lugares ao playoff, até fora dele na pior das hipóteses. Se ele fica, continuam bons este ano, e resta-lhes fazer magia para o próximo.

 

- Boston Celtics: aqui a questão das trocas torna-se determinante também. Porque o director-geral Danny Ainge parece decidido a trocar Rajon Rondo, a era do já desgastado 'Big Three' de Garnett, Pierce e Allen está mais próxima do fim do que nunca. Mas com a corrida a Chris Paul já fechada e a de Howard muito mal parada para Boston, pergunto-me o que terá esta organização em mente ao querer separar-se do seu valor mais jovem e seguro, não sabendo bem ao certo aquilo que poderá trazer de volta do mercado. E irão manter Garnett e Allen para as próximas épocas com salários mais modestos? Ao final de contas, se Rondo sai, o 7º lugar de Boston no Este está ameaçado.

 

Conferência de Oeste

 

Meio-Cheios

 

- Minnesotta Timberwolves: vão estar a desafiar para um lugar no playoff, tenho certeza disso. Com Kevin Love a candidatar-se para MVP este ano, um quase certo All-Star no futuro em Ricky Rubio, jogadores de alto potencial como Wesley Johnson e Derrick Williams, e até parecem ter encontrado um substituto viável para Darko Milicic em Nikola Pekovic, que tem jogado muito bem com Love, a maioria das peças estão lá. O único senão é a competição no 'deep West' é duríssima. De entre Houston, Memphis ou Denver está o candidato a alvo dos T-Wolves.

 

- Portland Trailblazers: são a equipa mais azarada dos últimos anos, com Houston como um distante segundo. Como se não bastasse Greg Oden simplesmente não parecer ter joelhos para a NBA, Brandon Roy reforma-se devido a problemas semelhantes e os desejos de título, que com esses dois e Aldridge seriam bastante palpáveis, tiveram que ser adiados. Mas apenas um adiamento diga-se. Continuam a ter uma equipa com todas as posições sólidas para os próximos anos, à excepção de poste, que, apesar de Camby estar a produzir, tal como um profissional deve fazer, está assustadoramente perto das 40 primaveras. Mesmo com Jamal Crawford, base-extremo de raiz a jogar no 5 inicial a base substituindo Raymond Felton, que não tem estado à altura das suas capacidades, o ex-Knick-Bobcat et al., tem as ferramentas para conduzir esta equipa, e só se outro desastre os assolar é que não conseguirão passar do actual 9º lugar. Ainda assim, mantém-se forte a competição.

 

Meio-Vazios

 

- Pois, esta conferência é muito forte! Não vejo nenhum nome que mereça estar aqui especialmente. Mesmo sem Billups, não se antevê uma queda vertiginosa para os Clippers, que procuram manter-se, no máximo, dentro dos 3, 4 primeiros do Oeste. Os Lakers, uma vez neste grupo também, não devem descer, salvo alguma lesão grave. Só talvez Dallas, Memphis e Houston estão mais vulneráveis, mas muito mais devido à competição das equipas imediatamente abaixo do que a falhas de cada um destes grupos.

 

 

16
Fev12

Buzzer Beater

Óscar Morgado

Estrelinha da Broadway continua a fazer das suas

 

Bom. Muito bom mesmo. Nesta época suis generis da NBA, o que a liga estava mesmo a precisar era de uma grande história de fazer correr tinta. Directamente dos New York Knicks, Jeremy Lin está numa ascenção meteórica para o estrelato. Jeremy quê? Pois é verdade, fixem bem o nome: Lin. Eu cá só lhe conhecia o nome de um ou dois resumos dos Golden State Warriors do ano passado, quando jogava um par de minutos por jogo, ou de um plantel de um qualquer jogo de computador, miseravelmente cotado na casa dos 50s ou 60s, demasiado pouco apelativo para alguém lhe pegar. Agora, o jovem atleta norte-americano, mas de ascendência chinesa e taiwanesa (o que está a recuperar um nicho de mercado da NBA na China, fragilizado após a reforma forçada de Yao Ming), está a revelar-se um base extremamente competente, que nos últimos 7 jogos, após ter-lhe sida dada a oportunidade de jogar contra os New Jersey Nets, bateu recordes de carreira averbando mais de 20 pontos nas 6 primeiras partidas, e 13 assistências na sétima, incluindo uma estupenda performance de 38 pontos contra os Lakers de Kobe Bryant.

Mas afinal de onde surgiu o fenómeno? Primeiro, estudou em Harvard. Ora, uma das universidades mais prestigiadas do mundo não costuma, porém, produzir atletas de grande qualidade. Isto significa que os olheiros não prestam muita atenção ao que se passa dentro das imediações de toda a rede Ivy League: os calendários desportivos diferentes das diferentes universidades na NCAA, que respondem aos altos padrões de exigência académica desta instituição, tiram logo crédito a muitos atletas que aí jogam. Resultado? Um jogador que não é escolhido no draft e se tem que fazer à vida, acabando por conseguir um contrato não garantido com os Golden State Warriors a época passada. As coisas não resultam bem: muito pouco altético, poucos minutos por jogo, e nada se vê que nunca se tenha visto antes. Além do mais, os Warriors, com Stephen Curry, não estavam a precisar de um base. Idem para os Houston Rockets, onde foi parar no início desta época, que tinham Kyle Lowry. Acontece então que com o excesso de talento na posição (Flynn e Dragic além de Lin), os Rockets precisaram de poupar espaço na folha de pagamentos e colocaram Lin à disposição nas waivers (local onde os jogadores não jogam pela sua equipa, e o seu salário é posto à disposição de outro clube, sem qualquer tipo de transacção), onde Nova Iorque foi buscar o jogador.

Mas em Nova Iorque o caso é distinto. Há meses à espera que Baron Davis volte da lesão e salve este caco de equipa do desastre, a equipa tinha experimentado, com algum sucesso, Iman Shumpert, rookie, na posição de base. Embora tenha resultado razoavelmente bem, o jogador tem características de base-extremo, posição 2, e não era o construtor de jogo que o treinador Mike D'Antoni, eterno estratega ofensivo, precisava para por a sua máquina de estrelas a funcionar. Com Carmelo Anthony e Amare Stoudemire a darem uma época desastrosa aos Knicks, a equipa esteve a passar um mau bocado. As outras soluções a base (Toney Douglas, Mike Bibby), não davam garantias. Toca de dar bons minutos a Lin vindo do banco. O resultado? 25 pontos! É verdade que foram muito fruto da pior defesa da NBA das últimas décadas, mas ainda assim, a aposta deu frutos. Tanto que no jogo seguinte, após lesão de Shumpert, o treinador aposta em Lin no 5 inicial contra Utah, e o resultado são 28 pontos. Eis que começava a loucura na Big Apple, e os Knicks a jogar melhor.

Duas coisas eu tenho vindo a perceber desde que acompanho de perto a NBA: a primeira, é que nenhum jogador lá está por acaso, seja por ter talento latente (mesmo que nunca se revele), uma característica específica em que é excepcional, ou simplesmente porque tem a vontade de ser melhor todos os dias e ser competente numa liga de gigantes. Lin insere-se no último conjunto, e talvez no primeiro, embora seja cedo para o dizer. A nível atlético está abaixo da média, mas tem os intangíveis de um base: visão de jogo. Ele pode ser a resposta para Nova Iorque, que precisa desesperadamente de um base que organize tamanha confusão de estrelas ofensivamente eficientes e de uma equipa que simplesmente tem parecido desregulada. A segunda coisa é que os New York Knicks não são uma equipa com uma estrutura competente para o basquetebol. Isso mesmo. Mesmo apesar de Lin estar-se a revelar uma aposta sólida da equipa, a verdade é que com os anos disparates atrás de disparates têm sido feitos para montar esta equipa no momento, e os resultados estão à vista. A época passada pareceu haver um novo rumo com a contratação de Amare Stoudemire, e a equipa estava a subir, mas aquando da contratação de Anthony aos Nuggets, em troca de demasiado talento jovem e promissor (e mais barato e de menor manutenção), contra as ideias do director-geral (esta transacção teve o dedo do proprietário, Jim Dolan, que é muito bom a gerir um negócio que faz mais dinheiro que qualquer outro na NBA, e a buscar por Anthony foi mais uma forma de ir buscar receitas de publicidade e merchandising, e não de ganhar campeonatos). Isto revela uma falta de coerência tremenda, sem apostar nos valores seguros e de baixo-risco que possuiam. Não sei ao certo qual será o tecto de Jeremy Lin, mas pelo menos ele parece resolver o problema desta disfunção de equipa, por agora.

Não creio ainda que lutem pelo título, embora o lugar no playoff pareça agora mais seguro. E pelo caminho, vão-se vendendo mais camisolas, vencendo mais jogos, e criando mais esperança. Mas em Nova Iorque tudo é demasiado efémero, e até agora a minha opinião da organização começa a mudar um pouco, apesar de me parecer que as prioridades estejam muito erradas. Duas boas escolhas de draft em escolhas já muito avançadas parece-me um começo (Fields o ano passado e Shumpert este ano), bem como uma contratação providencial de Lin. Mas ainda estou confiante que nem os Knicks estavam à espera disto.