Área de Ensaio
All-Blacks
27 De Novembro de 2010. Millenium Stadium, País de Gales. Defrontam-se, neste dia, País de Gales e Nova Zelândia numa partida amigável. Ao minuto 51, o Asa Neo-Zelandês Daniel Braid comete uma penalidade e vê o cartão amarelo que o coloca de fora do jogo nos 10 minutos seguintes. O resultado nesta altura é de 13-9 a favor da equipa do Hemisfério Sul. Na sequência da falta, o Médio de Abertura galês Stephen Jones chuta aos postes e coloca o resultado em 13-12. Com apenas um ponto a separar as equipas, e o País de Gales a jogar com mais um homem, espera-se uma quebra anímica dos All-Blacks e uma subida de rendimento por parte dos galeses que os leve a vencer a partida.
Contudo, o episódio que se passou de seguida veio demonstrar o que é o rugby Neozelandês. Depois de uma série de ataques bem parados pela defesa galesa, a bola chega à linha, onde o ponta Hosea Gear marca um ensaio que acaba definitivamente com as aspirações galesas de uma vitória. Dan Carter, com uma conversão difícil, coloca o resultado em 20-12. A Nova Zelândia acaba por vencer o jogo por 37-25.
Este episódio demonstra aquilo que para mim é a maior qualidade do estilo de jogo dos All-Blacks, um espírito incrível e, acima de tudo, uma capacidade tremenda de, quando o adversário parece estar por cima, eles virarem o jogo.
A Nova Zelândia é, sem dúvida alguma, uma das selecções mais famosas do rugby mundial. E contribuiu para isso, por exemplo, o facto de interpretarem o “Haka”, a dança de guerra Maori, antes dos jogos ou jogarem sempre com o seu equipamento integralmente preto. Contudo, aquilo que mais visibilidade deu e continua a dar aos All-Blacks é a sua forma de jogar. Para além da mentalidade guerreira, existem outros aspectos do jogo Neozelandês que se destacam em relação às restantes equipas mundiais. Apesar de sempre ter tido grandes avançados, é nos defesas que a Nova Zelândia se destaca. Jogadores rapidíssimos, com um controlo de bola fenomenal e uma capacidade de passe que, só por si, é capaz de abrir buracos nas defesas contrárias, é isto a imagem dos defesas neozelandeses.
Ao longo das décadas, a Nova Zelândia tem sempre apresentado grandes equipas, não só nas competições internacionais mas também nos jogos amigáveis em que tem vindo a participar, por isso mesmo a IRB, nomeou os All-Blacks como “Equipa do Ano” em 2005,2006 e 2008, sendo esta a mais bem sucedida equipa da história do rugby.
Além disso, vários jogadores históricos têm surgido nas fileiras desta selecção: nomes como o Talonador Sean Fitzpatrick, os Pontas John Kirwan e Doug Howlett (o jogador com mais ensaios), ou, mais recentemente, o Centro Tana Umaga, o Médio de Abertura Dan Carter ou o Asa Richie McCaw. E, obviamente, aquele que é por muitos considerado o melhor jogador de sempre, Jonah Lomu.
O que tem faltado aos All-Blacks tem sido a vitória no Rugby World Cup. Em 6 edições, venceram apenas uma (1987) e jogaram-na em casa. Em 2007, por exemplo, foram eliminados pela surpreendente Argentina, e mais uma vez não corresponderam às expectativas. O problema tem sido mesmo este, partem sempre como favoritos e acabam por sucumbir à pressão. Em termos de Tri-Nations Cup, a grande competição do hemisfério Sul, aí dominam de longe sobre África do Sul e Austrália, tendo vencido dez edições contra apenas três dos sul-africanos e duas dos australianos.
No Campeonato do Mundo deste ano partirão, mais uma vez, como favoritos.
Os jogos de Julho/Agosto servirão para mostrar se a forma que apresentaram no final do ano passado se mantém ou não, e se existe alguma equipa que lhes consiga fazer frente.
Neste momento, no panorama internacional, apenas a África do Sul e a Inglaterra parecem ser capazes de fazer frente à Nova Zelândia, mas também em 2007 ninguém esperava uma vitória argentina e ela aconteceu.
Teremos de esperar para ver se mais uma vez os All-Blacks falham o objectivo, ou se o espírito guerreiro que os caracteriza emerge nesta competição e os leva à vitória final.
By Pedro Santos