Área de Ensaio
3ª Parte
Como o tempo é pouco e há muita coisa para dizer, aproveito esta crónica para tratar um assunto que há muito tempo queria abordar. Apesar de não estar directamente relacionado com o Rugby World Cup, assume nesta competição uma dimensão diferente. Vou falar esta semana de uma das mais belas tradições do mundo do rugby. A “terceira parte”.
Um jogo de rugby é composto por duas partes de 40 minutos. A 3ª parte é tão ou mais importante que as outras duas (dependendo obviamente do nível competitivo de que se está a falar).
Mas o que é então a 3ª parte? A 3ª parte é um período que se segue ao jogoem si. Ambasas equipas reúnem-se, não só os jogadores, mas também os treinadores, presidentes, directores. São feitos elogios à prestação das equipas e relembram-se os momentos altos da partida. No fundo é um momento de confraternização que une homens que passaram os últimos 80 minutos a “lutar” dentro do campo. Por fim faz-se ainda uma menção ao árbitro. Tudo isto, claro está, acompanhado da bebida que para mim, melhor simboliza o rugby. A cerveja, pois claro.
Quando não é possível reunir as duas equipas, a 3ª parte realiza-se na mesma. Os jogadores da equipa da casa reúnem-se, estreitando assim os laços entre si.
Esta tradição é quase tão antiga como o próprio jogo, e é religiosamente cumprida, seja num jogo do campeonato inglês de rugby, seja num jogo de um campeonato de juniores em Portugal. É algo que faz parte do jogo.
No mundial de rugby de 2007, o IRB fez algo que para mim foi um erro tremendo. Deu a escolher às equipas a possibilidade de comparecerem ou não nas “terceiras partes”. Claro que a maioria das equipas (e bem diga-se) não quebrou a tradição e lá esteve a festejar. Até aqui a 3ª parte é levada a sério.
Nesta mesma competição houve um acontecimento no mínimo curioso. Depois do jogo entre Portugal e a Nova Zelândia, alguns jogadores de ambas as equipas subiram novamente ao relvado e disputaram um pequeno jogo de futebol. Quem imaginaria? A melhor selecção de rugby do mundo e a única selecção amadora presente a disputar um jogo de futebol em pleno relvado? Isto só demonstra uma coisa, até os All-Blacks levam a 3ª parte a sério. Aqui está a sua importância.
Não conheço mais nenhum desporto que consiga fazer isto. Onde mais se vêm homens a lutar e depois a festejar alegremente, esquecendo o que se passou dentro do campo? Onde mais é possível ver a equipa mais forte e a mais fraca jogarem uma “peladinha” esquecendo que uns ganham milhões e outros estão ali por amor?
É por isto que tenho tanto prazer em dizer que o rugby é o meu desporto, e que me orgulho por o ter escolhido.
Espero que este mundial volte a mostrar estas belas imagens, e mostre como o rugby é mesmo “um jogo de brutos, jogado por cavalheiros”.
Mas enquanto o mundial não chega, há competições a decorrer.
E é com enorme felicidade que digo que somos novamente Campeões Europeus de Sevens.
Á entrada para a etapa final do circuito havia possibilidades de Portugal se sagrar campeão, embora fosse muito difícil. Portugal teria de vencer esta etapa e esperar que a Inglaterra não alcançasse sequer as meias-finais da Taça Cup.
A Inglaterra “fez o seu trabalho” ou seja ficou em 3ª lugar no grupo e apurou-se apenas para as meias-finais da Taça Plate. Cabia então a Portugal fazer a sua parte. E com tranquilidade “Os Lobos” atingiram a final onde encontraram a vizinha Espanha.
E quem viu a final não pode ter ficado indiferente. Quando tocou a sirene perdíamos por 10-7, e apenas havia uma jogada para vencer a partida. Se perdêssemos a bola, perdíamos também o Europeu. Mas uma concentração fantástica e uma arrancada espectacular de Duarte Moreira deram-nos a 8ª vitória nesta competição. E este ano foi ainda mais difícil. A Inglaterra apostou forte neste Circuito, e a Espanha provou mais uma vez a sua evolução em sevens. Mas o que interessa, é que a taça é nossa.
O Tri Nations Series começa no próximo sábado. Austrália e África do Sul abrem as hostilidades em Sidney. Em ano de mundial, será um Tri Nations para fazer algumas experiências e perceber se estas equipas estão em forma para levantar a “pequena” Webb Ellis.
A Pacific Nations Cup chegou ao fim. Na quarta-feira passada, o Japão venceu as Fiji (24-13), enquanto que no “derby” Tonga-Samoa, Tonga venceu por (29-19).
Apesar de Japão e Fiji terem acabado em igualdade pontual, o Japão tinha vantagem no confronto directo e venceu a prova. Boas indicações japonesas para o mundial. Veremos com será a prestação japonesa e até que ponto evoluiu o rugby japonês desde 2007.
Por fim, já temos calendários para os campeonatos nacionais. O nosso Campeonato Super Bock (a divisão de Honra, campeonato maior do nosso rugby), arranca no fim-de-semana de 24 e 25 de Setembro. A 1ª jornada irá opor os campeões Agronomia e os recém chegados CDUP, na Tapada, enquanto que em Monsanto haverá um sempre especial Direito – CDUL. Em Setembro cá estaremos para acompanhar estas andanças.
By Pedro Santos