Porque a vida também é feita a correr...
A marchar é que somos dos melhores do Mundo…
Caro leitor, antes de passar ao artigo em si, convido-o a fazer uma retrospectiva colectiva do desporto nacional. Ora, no futebol temos uma selecção de top mas longe do nº1, futsal e hóquei em patins não dominam a modalidade a nível Mundial e não é claro que sejam a segunda potência. Nos restantes desportos colectivos, só quem anda distraído não percebe que estamos a milhas do topo. Na ginástica, fugazmente, lá ganhamos uma medalha de ouro nos trampolins, a canoagem começa a gora a aparecer - mas as medalhas de prata e bronze dos K4 são muito mais que de ouro. No meio-fundo a nível feminino dominamos mas a nível mundial estamos a anos- luz. Nisto tudo sobra a marcha.
Ora a marcha, por muito que o neguemos, é a nossa maior potência colectiva desportiva. Temos 4 atletas de top europeu e mundial e as nossas congéneres descansam porque só podem participar três. A IAAF criou a regra de que apenas 3 atletas podem participar em cada prova numa grande competição, medida criada para diminuir o peso das grandes potências americanos (velocidade), russos (saltos e lançamentos), etíopes e quenianos (fundo). Para tornar o desporto mais equilibrado. Mas, na verdade, um país com 10 milhões de habitantes e com pouquíssimos federados no atletismo e praticantes de marcha ainda menos consegue produzir 4 pérolas que triunfam nas estradas espalhadas por esse mundo fora.
Não falo apenas do título mundial obtido em Chihuahua em Maio do pretérito ano. Falo do conjunto de resultados que este sector tem dado ao atletismo, em particular, e ao desporto nacional no geral.
Comecemos pela figura de proa - Susana Feitor. Com apenas 15 anos, sagrou-se a única campeã mundial júnior do nosso atletismo. A falta de tempo que acarreta pesquisar a idade de todos os campeões mundiais juniores da história do atletismo não me permite dizer com total veracidade que tenha sido a campeã mais prematura, mas a minha experiência diz-me que não andará longe. Prata 4 anos mais tarde na mesma competição. Soma ainda um 3º, um 4º e um 5º num Mundial para além de diversas colocações no top-10. Ana Cabecinha, a mais jovem de todas estas ilustres protagonistas, tem a regularidade de se ficar permanentemente na cauda do top-8. 8º nos Jogos Olímpicos, Taça do Mundo de 2010 e europeu. Já Inês Henriques tem como melhores resultados o utópico bronze que alcançou na Taça do Mundo da época transacta e o 7º lugar no Mundial de há 4 anos em Osaka. Vera Santos, a grande referência nacional da actualidade, conquistou brilhantemente um 5º lugar no Mundial de Berlim em 2009 e um 6º no europeu passado. Mas o grande resultado da atleta foi o vice-título da Taça do Mundo em 2010.
Quatro atletas, todas elas com pergaminhos europeus e mundiais, num país pequenino chamado por muitos como a província de Espanha… É notável este feito. A regra absurda da IAAF do limite de 3 atletas por país impede que o domínio nacional seja ainda mais avassalador. Só a Rússia nos faz frente e, mesmo assim, vai tendo sinais de fraqueza. Convém sublinhar que esta regra que obriga a uma atleta ficar sempre de fora tem suscitado grandes problemas no seio da federação portuguesa, uma inevitabilidade face à injustiça desta regra completamente improcedente.
Haverá mais sectores da nossa vida desportiva e geral em que não podemos participar ou ganhar mais porque já atingimos o limite? Não me parece. Este é o triunfo da marcha em quantidade e qualidade num país onde os sonhos utópicos serão a única maneira de escape do nosso destino que temos forçosamente de fugir…
By João Perfeito