Porque a vida também é feita a correr...
O doping chegou ao atletismo nacional
No passado mês de Março, Eduardo Mbengani, 7º classificado nos europeus de Cross de 2009 e 2010, foi apanhado nas malhas do doping, acusando EPO. Na semana passada Nuno Costa - melhor atleta nacional no mundial de cross deste ano - acusou doping e aguarda pela contra análise.
Para mim esta questão do doping é crucial para termos um desporto mais limpo e mais honesto, para ser o verdadeiro desporto.
No fundo, a questão doping, fruto de materializar os interesses da sociedade capitalista que todos vivemos, é passada para segundo plano. No primeiro plano prossegue a investigação científica do atletismo. Estuda-se como a cor de pele pode variar o rendimento dos atletas. Será normal um caucasiano baixar dos 10 segundos aos 100 metros? Os africanos são mesmo predestinados? Só com naturalizações é que se ganha medalhas? No fundo poeira para os nossos olhos.
Mais do que fazer manchetes tipo “Bolt está a 18 centésimos de segundos de deixar de ser humano segundo estudo de cientista norueguês” ou declarações como “Na humanidade nasce um Leonardo da Vinci, nasce um Newton, nasce um Mozart e nasce um Bolt”, é preciso lutar pela preservação do desporto limpo.
Se a sociedade está de costas voltadas para a política e para os políticos, se na música assistimos ao capitalismo na sua expoente máxima, se no cinema continuamos a viver numa ditadura americana do “american way of life”, apenas o desporto pode unir uma nação e despertar nelas os mais nobres valores humanos. A lealdade, o esforço, o trabalho, o sacrifício, a perseverança, a ambição e a eterna glória… Se não se fizer nada para impedir que o desporto embarque neste diapasão, o mundo deixará de ter espectáculos genuínos…
Por isso, talvez cada vez mais me identifique com Telma Monteiro (Judo) ou Gustavo Lima (Vela) ou João Costa (Tiro) ou Fernando Pimenta (Canoagem). Tudo nomes que em Londres 2012 podem-me levar a chorar a ouvir o hino nacional. Porque nestes desportos que quase ninguém conhece, e por isso tive de meter parêntesis, não existem prémios exorbitantes e a glória de ganhar apenas depende da lealdade, do esforço e da ambição.
Se um país parou para ver Carlos Lopes ser campeão olímpico, se um país não dormiu para ver Rosa Mota ser campeã olímpica em Seul, se um país parou para ver Fernanda Ribeiro bater a melhor atleta de sempre nos 10000 metros, se um país parou para ver Nélson Évora num salto rumo à eternidade, um país merece continuar a parar para sonhar, para esquecer um pouco a sua mediocridade de vida… por isso só o nosso atletismo (fruto da sua componente mediática face aos outros desportos) nos pode catapultar para um estado de êxtase transnacional. Por isso não destruam o nosso atletismo…
By João Perfeito