Buzzer - Beater
Brandos? De certeza?
Na NBA joga-se duro. Na América, em geral, joga-se duro. E os atletas norte-americanos são, em geral, duros. Faz parte da sua formação: extremamente atléticos, com técnica espantosa. Além disso, são grandes. Muito grandes mesmo. Pelo menos no basquetebol, isso traduz-se num estilo de jogo agressivo, especialmente entre postes e jogadores mais interiores.
Mas a liga tem vindo a internacionalizar-se, e já não são apenas norte-americanos a jogar, pois cada vez há mais atletas internacionais. Isto traz alguma diversidade à cultura de jogo norte-americana. Mas será que toda a gente lida bem com isto?
Estudo de caso: a posição de extremo-poste (ou número 4) tem sido a que, discutivelmente, tem visto mais jogadores internacionais singrarem na NBA. Estou a falar de dois atletas específicos: o espanhol Pau Gasol e o alemão Dirk Nowitkzki.
Mas então que se passa? Há visões tradicionais das habilidades de cada posição em campo, que supostamente são o modelo de jogador: um base deve ser um excelente passador e organizador de jogo, um base-extremo tem que ser bom lançador, um extremo ser o mais versátil possível, um poste um grande ressaltador e defesa exímio, e um extremo-poste deveria ser uma versão mais versátil do poste, com mais mobilidade e capacidade explosiva.
Temos, portanto, exemplos: Kevin Garnett, dos Boston Celtics, tem uma grande capacidade defensiva e de combatividade nas tabelas. Já Amare Stoudemire tem toda a explosividade que se deseja da sua posição. E depois temos Dirk Nowitzki, que é mortal a finalizar perto do cesto, e mais mortal ainda de longa distância. Para juntar à festa, é um bom ressaltador. Que chatice não é? Se puserem um base a defendê-lo para conter o tiro exterior, ele coloca-o perto da tabela e os seus 2.13 metros são avassaladores; se puserem um poste ou um extremo-poste a conter o seu jogo ofensivo interior, ele afasta-se e lança a bola de uma distância que necessita de jogadores que defendam melhor com um centro de gravidade baixo (o que é difícil para os postes).
Bolas, isto é versatilidade não é? Por essa razão Nowitzki averbou 23 pontos e 7 ressaltos de média na época regular, e levou os Dallas Mavericks ao terceiro lugar da sua conferência. Agora em playoff, a parada tem subido, com o alemão a marcar 30.5 pontos por jogo e a capturar 8.5 ressaltos.
Depois há Gasol, semelhante ao anterior no jogo interior, mas bem menos eficiente do exterior. Porém, é muito melhor ressaltador. Averbou 18.8 pontos e 10.2 ressaltos por jogo na época regular, sendo a segunda opção dos Lakers após Kobe Bryant.
São dois jogadores extraordinários. E mesmo assim há quem lhes chame de “brandos” ou “bonzinhos”. Stoudemire já fez essa crítica a Gasol, e Charles Barkley a Nowitzki, argumentando que, em momentos críticos do jogo, não fazem faltas pesadas, ou defendem de forma muito permissiva. Mas será possível ser-se brando a ganhar 10 ressaltos por jogo e a desarmar uma ou duas vezes (a melhor média esta época foi de Andrew Bogut, com 2.58) o lançamento adversário (Gasol)? Ou a fazer a vida negra a treinadores e defensores adversários ao marcar de qualquer zona do campo e ainda assim ganhar 7 ressaltos (Nowitzki)?
Estas acusações são, no máximo, jogos mentais interessantes. Também Chris Bosh tem sido criticado pela sua falta de agressividade nos Miami Heat, mas já provou em inúmeras ocasiões o contrário. Pau Gasol ganhou dois campeonatos da NBA com os Lakers nos últimos dois anos, tendo sido a peça-chave para o sucesso da equipa quando foi trocado de Memphis há uns anos. Dirk Nowitkzki já foi às Finais da NBA e apenas teve o azar de apanhar um Dwayne Wade endiabrado que lhe custou o título. De resto, critica-se a falta de sucesso dos Mavericks de Dirk nos playoffs, tendo já sido diversas vezes eliminados na primeira ronda contra equipas teoricamente mais fracas. Mas a margem de 2-0 à melhor de sete que os Mavericks estão a ter contra os Trailblazers está a mostrar, neste momento, qual é a melhor equipa, bem como quem é o melhor em campo.
Se ganha jogos, é porque é bom, e não porque tenha que seguir um modelo de jogador específico a uma posição. Nowitzki é, discutivelmente, o melhor extremo-poste da actualidade. Gasol está muito próximo, talvez depois de Stoudemire. Brandos? Não me parece.
by Óscar Morgado