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Minuto Zero

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

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Minuto Zero

20
Jan11

Steve Field

Minuto Zero
Paços de Ferreira – ganhar a bola como princípio e não como um fim

No passado sábado aconteceu o inevitável para os lados de Alvalade: o presidente José Eduardo Bettencourt, no final do jogo que o Sporting saiu derrotado na sua própria casa frente ao Paços de Ferreira por 3-2, demitiu-se, deixando certamente os adeptos leoninos mais aliviados, face ao caos em que o clube se encontra.
E foi a derrota em casa contra uma equipa de outro campeonato (entende-se campeonato da manutenção) que fez precipitar a demissão de JEB. Face à demissão, naturalmente que os media deixaram para segundo plano o grande destaque da noite: a vitória categórica do Paços de Ferreira.
Fonte: Expresso.pt
Só os mais fanáticos poderão justificar a derrota ou a exibição menos conseguida do Sporting pelo segundo golo Pacense (é certo que o penalty é inexistente). O Paços de Ferreira apresentou-se em Alvalade sem medo, jogando olhos nos olhos com o Sporting, que embora a sua instabilidade e a sua perda progressiva do seu estatuto de grande (em termos de resultados, claro) continua a ser um grande clube e que é sempre difícil de batido no seu reduto.
Uma das razões para o sucesso Pacense prendeu-se com o uso da sua habitual postura, da sua habitual estratégia. Estranho? Não para quem acompanha o futebol português. Isto porque as equipas mais pequenas, por norma, quando defrontam as maiores, sobretudo fora de casa, alteram a sua estratégia, adoptando estratégias puramente defensivas, em alguns casos denominado de ‘autocarro’. Não tenho nada contra isso, bem pelo contrário, é uma estratégia como qualquer outra e se for a única forma de sucesso, muito bem. (lembro o jogo Barcelona – Inter da época passada. o Inter não teve outra maneira de parar a super potência. Mourinho foi considerado o mestre nesse jogo, também por mim, e evidentemente não fazia sentido criticar essa postura) No entanto, há maneiras mais atractivas de jogar, e aí o meu destaque para o Paços.
O Paços iniciou o jogo no seu habitual 1x4x1x2x3 com Cássio na baliza, uma defesa por vezes permeável (sobretudo os centrais Samuel e Cohene) mas com um lateral bastante ofensivo (Maykon), o que é natural fase à sua posição de origem, extremo. No meio campo André Leão é a âncora da equipa, o jogador que garante os equilíbrios. À sua frente dois jogadores interessantes: David Simão, jogador emprestado pelo Benfica e Leonel Olímpio. Quanto ao primeiro, falta-lhe o ‘clique’, um pequeno passe em frente em termos tácticos e de estabilidade exibicional para se poder afirmar no futebol português. O tridente ofensivo é perigoso, sobretudo quando parte para contra-ataque. Tem um ponta-de-lança que ainda não deu nas vistas (Rondon), mas tem dois extremos bastante bons tecnicamente (Manuel José e Pizzi), sobretudo Pizzi, jogador cedido pelo Braga, que poderá muito bem vingar no clube arsenalista face à sua grande qualidade. 
A defender, com excepção de Rondon, toda a equipa descia fazendo uma pressão média-baixa. As linhas juntavam e a equipa que tem algumas debilidades a nível defensivo tornava-se compacta, reduzia espaços, basculava, fazia transições defensivas com eficácia e amenizava essas debilidades. No entanto, no outro lado estava Valdez, um dos melhores do campeonato (sem dúvida o melhor e mais inconformado jogador leonino) que é exímio a jogar entre linhas e provocou imensos estragos na equipa Pacense. O Paços viu-se com imensos problemas com este pequeno grande jogador, que evidenciou algumas das carências que já referenciei.
Quanto ao processo ofensivo, a sua grande virtude, foi bastante produtiva, causando imensos calafrios à defensiva leonina, que raras as vezes os conseguiram parar. As transições foram sempre feitas a grande velocidade e a toda a largura do campo, sempre apoiada pelos médios que faziam a cobertura adequada. Ou seja, faz a junção de duas vertentes que raramente se encontram ligadas: transições rápidas e apoiadas, em posse.
O Paços jogou em Alvalade com um dos princípios que mais admiro e mais se aproxima da minha concepção do futebol. Campo pequeno a defender, campo grande a atacar. Mas há muitas equipas que tentam fazê-lo e o sucesso é reduzido, pois não têm capacidade para tal, é uma ideia de futebol bastante adaptada ao futebol moderno que implica bastante treino, bastantes rotinas de jogo. Não é fácil jogar deste modo. Não é fácil estar a defender a atacar e estar a atacar a defender, sempre a tentar jogar de forma positiva. E é esta a forma que se devia de ver nas equipas mais pequenas quando defrontam as grandes. Utilizem ‘autocarros’, utilizem o que acharem mais adequado (e ninguém tem de criticar), mas a recuperação de bola se não for vista como o princípio de uma possível transição, de uma possível jogada ofensiva e não como o fim de um ataque adversário, o sucesso fica mais distante e o futebol português não dá um passo em frente em termos de competitividade. Se as equipas não tiverem receio da bola e mantiverem a sua personalidade como o Paços de Ferreira fez, certamente que mais surpresas desta acontecerão e certamente que o futebol português se torna mais atraente.

by Steve Grácio

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