16
Jan11
Fumo sem Fogo
Minuto Zero
As alegrias de um povo
Gostemos ou não de futebol, há uma coisa que não se pode negar – a fortíssima relação que os portugueses têm com este desporto. É a catarse nacional. Para uns é triste, símbolo da nossa pequenez e da mentalidade tacanha do povo, para outros é motivo de orgulho, símbolo de união geral e demonstração de força face ao exterior. A verdade é que é no futebol ou através do futebol que os portugueses dão cartas, vencem prémios e até, aprendem a cantar o hino. Quem é que já se esqueceu das reportagens por alturas do Euro 2004 onde muitos admitiam que foi a assistir a jogos da selecção que aprenderam a cantar A Portuguesa?
Somos um país pequeno com muitos anos de história, orgulhoso do seu passado, triste e deprimido quanto ao presente e receoso quando ao futuro. Mas há um facto que veio alterar por completo a vivência aqui no burgo. O futebol. Surgido no início do século passado, o futebol – essa importação da aliada Inglaterra – jamais voltaria a arredar pé da nossa vida. Veio para ficar. Caíram reis, vieram presidentes, sem esquecer as ditaduras, revoluções, democracias, europas, e tudo o mais o que caracteriza a nossa história contemporânea, mas o futebol permaneceu. Evoluiu, espalhou-se pelo país, internacionalizou-se e por cá continua. Quando o país está resignado, a caminho da bancarrota ou sem esperança no futuro, eis que surge uma alegria. E vem do sítio do costume: do futebol.
A primeira grande jornada foi o Mundial de 1966 onde o honroso 3º lugar e as lágrimas no rosto de Eusébio deram-nos a conhecer ao mundo. Mais tarde, foi em 1984, quando a selecção de Chalana e companhia conseguiu chegar às meias-finais do Europeu onde só foi travada pela França de Platini, ou em 2000 quando novamente os gauleses se encarregaram de carimbar o nosso passaporte de regresso a casa, em 2004 naquele épico Europeu, logo depois em 2006 quando surpreendemos e só sucumbimos perante (a habitual) selecção francesa. São estas as alegrias de um povo. Do povo português. O Euro 2004 foi a última ocasião em que se viu o país unido na organização, na recepção e na caminhada da nossa selecção. Será sempre inesquecível aquele cortejo popular desde Alcochete até à Luz no dia da final que acabaria por se tornar numa tragédia grega. A vitória frente à Espanha, os penaltis do Ricardo contra a Inglaterra, a exibição de gala diante da laranja mecânica, os relatos do grande Jorge Perestrelo, as enchentes no Marquês de Pombal, enfim, um mês para sempre recordar. Há grandes figuras que consubstanciaram estas conquistas: Eusébio, Figo, Ronaldo, Scolari, Rui Costa, entre outros. Sem esquecer a figura que tanto enaltece o futebol português, apesar de nunca ter servido a selecção – o melhor treinador do mundo, José Mourinho. Sobre eles correram litros de tinta, abriram-se e fecharam-se telejornais, levaram o país às costas, carregaram sonhos e ambições numa vontade única de enaltecer este grande país e de demonstrar que, pelo menos, no futebol somos os melhores e os mais invejados. Que temos excelência, quer em jogadores quer em treinadores.
É com estas linhas que se faz o retrato de um povo, este que só tem alegrias colectivas quando se vence algum jogo de futebol. Um povo que encheu o país de bandeiras a pedido de um simples seleccionador nacional. Um povo que não seria o mesmo sem aquele jogo de 90 minutos, onde 22 seres humanos disputam uma bola. Parece básico demais para ser o orgulho de um país? Talvez, mas não na nossa terra. De tudo isto, algo sugere-me uma reflexão: O que seria hoje Portugal sem futebol?
by Alexandre Poço