22
Nov10
Segunda é o dia
Minuto Zero
Serão três suficientes?
Uma questão que sempre se vai debatendo no mundo do desporto, nomeadamente do futebol, é a inevitável divisão que se faz entre clubes “grandes” e clubes “pequenos”. Em Portugal, no caso do futebol, convencionou-se desde sempre que havia três clubes grandes e que os restantes seriam os pequenos. Quanto muito, lá se vai concedendo a designação de “quarto grande”, de tempos a tempos, a algum clube que morda os calcanhares aos três maiores. Mas, seja como for, não houve até hoje nenhum clube que se conseguisse de facto impor a Benfica, Sporting e Porto.
O domínio destes três clubes reflecte-se, também, nos programas de televisão sobre o tema. Ainda que cada vez haja mais programas desportivos com comentadores independentes e sem ligação a nenhum clube, nomeadamente na RTP N e na SIC Notícias, verificam-se ainda uma porção de programas que utilizam o tradicional formato de um moderador e três comentadores, um por cada clube grande.
Muito se tem criticado esta prática, principalmente por, nos últimos anos, a existência de um “quarto grande” ser cada vez mais observável. As televisões (bem como as rádios e a imprensa, a outros níveis), apesar de apresentarem formatos sem comentadores dos clubes, ainda não optaram por incluir nos painéis clubísticos um comentador do Braga, por exemplo. Contudo, por mais críticas que se façam, parece-me que esta posição das televisões tem toda a razão de ser.
Em primeiro lugar, a inclusão de um comentador para um quarto clube teria que obedecer a um critério que me parece difícil de definir, já que ainda não houve nenhum clube que conquistasse esse “título” inquestionavelmente. Além disso, incluir um quarto comentador rotativo continuaria a remeter para um segundo plano os clubes pequenos, pois não estariam no mesmo patamar que os três grandes, contando apenas com um comentador “à vez”.
Por outro lado, constituir painéis com representantes de todos os clubes é obviamente impossível e desinteressante. Nenhum telespectador teria interesse em ver um debate semanal com 16 comentadores. É importante não esquecermos que o objectivo de todos os programas é, no fundo, as audiências, condição essencial para a sobrevivência do canal de televisão. E todos somos unânimes em considerar que só os três clubes grandes dão audiência efectiva aos canais de televisão, razão pela qual só os seus jogos são transmitidos.
Podemos concluir, portanto, que o modelo de programa/debate desportivo que tem sido seguido desde sempre na televisão portuguesa é, na verdade, o único possível. Seria concebível, eventualmente, a existência de um quarto ou quinto comentador, mas apenas se um clube de facto se passasse a incluir no grupo dos “grandes” e não apenas como um clube na fronteira, sem que tenha um estatuto inquestionável.
Uma questão que não pode ser esquecida prende-se, contudo, com o que referimos quanto ao objectivo dos canais de televisão: as audiências e o lucro. A RTP, como serviço público, não tem essas condicionantes. Assim sendo, será que no canal público fazem sentido debates desportivos?
by João Vargas