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Minuto Zero

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

A Semana Desportiva, minuto a minuto!

Minuto Zero

23
Jan12

Livre Directo

Cláudio Guerreiro

O "peso" dos milhões

 


 

Muitas das grandes equipas internacionais deparam-se com alguns problemas a nível de resultados e para o corrigir pagam avultadas somas de modo a conseguir os direitos desportivos de um avançado que tenha a capacidade de colocar um fim aos problemas na zona de finalização. No entanto, as quantias elevadas das transferências funcionam, muitas vezes, como pressão para os jogadores.

 

Os exemplos mais significativos desta situação têm sido Fernando Torres do Chelsea e Andy Carroll do Liverpool que se transferiram para os clubes que representam no mercado de Inverno da época transacta. Abramovich não olhou a meios para garantir a contratação de Torres, tendo pago 58 de milhões de euros ao seu antigo clube, o Liverpool, para o levar para Londres. Já no caso do avançado inglês o Liverpool pagou cerca de 40 milhões de euros ao Newcastle para adquirir o passe de um dos que era apontado como o futuro ponta-de-lança da equipa nacional.

               

Apesar de serem avançados com características de jogo diferentes (Torres é mais móvel, Carroll fica um pouco mais fixo na área), sempre apresentaram um grande número de golos por época.

 

Torres já era visto como um dos grandes avançados da Europa tendo marcado muitos golos pelos seus antigo clubes (Atlético de Mardid e Liverpool), mesmo que alguns problemas físicos o tenham limitado. A sua entrada no Chelsea permitiu-lhe sonhar em ganhar grandes títulos de clubes, uma vez que pela Selecção espanhola já ganhara o Campeonato da Europa e o Mundial. No entanto, o valor pago não correspondeu exactamente a muitos golos marcados. Desde Janeiro até agora o avançado espanhol marcou apenas 5 golos em 42 jogos oficiais pelo seu clube.  Apesar de algumas exibições bem conseguidas, está longe de convencer os adeptos blues.

               

No caso do avançado inglês os números são pouco diferentes, uma vez que em 31 jogos Andy Carroll apresenta um saldo de 6 golos apenas. Só que no caso do avançado inglês existem outras condicionantes que podem justificar estes números, pois muitas são as notícias que saem na imprensa britânica acerca do seu excessivo consumo de álcool. Para além disto os adeptos do Liverpool têm sempre em mente que Luis Suarez, seu companheiro de equipa, custou muito menos e tem apresentado um rendimento muito melhor.

               

Muitos têm sido também os rumores que ditam que ambos estão na lista de transferências dos respectivos clubes, no entanto os seus treinadores têm vindo a público desmenti-lo. Por vezes, evita-se discutir o preço das transferências como estando directamente relacionado com o rendimento dos jogadores, mas a verdade é que pode ser um factor preponderante. Estes exemplos podem até não ser representativos da maioria, mas não se pode negar que isto está sempre na mente dos jogadores, por mais que eles o desmintam, contribuindo em grande parte para o fraco rendimento desportivo.

 

 

Por Cláudio Guerreiro

22
Jan12

Área de Ensaio

Pedro Santos

   Os Mitos do Rugby

 

 

 

    Com o campeonato nacional parado, e com pouco rugby internacional a merecer destaque, irei aproveitar para escrever sobre um tema que considero pertinente. Esse tema são os mitos e ideias feitas sobre o rugby.

Para o crescimento da modalidade há que erradicar algumas ideias pré-concebidas que ainda estão implementadas na mentalidade da maioria das pessoas. Estes mitos apenas têm contribuido para afastar jovens do desporto e impedir um maior desenvolvimento da modalidade do nosso país.

    A presença da selecção nacional no RWC 2007, veio dar uma visibilidade muito grande á modalidade, e, acredito que muitos aproveitaram esse destaque para se familiarizar com o rugby. Contudo ainda existem mitos, resultantes do desconhecimento que devem ser desfeitos.

    O primeiro grande mito que envolve este desporto é a ideia de que o rugby é um desporto violento. Completamente errado. O rugby é um desporto de contacto e por vezes viril, mas o respeito pelo adversário é enorme. Raramente existe a intenção de magoar, e as próprias regras existem para proteger a integridade fisica dos atletas.  O rugby nada tem de violento, pelo contrário é uma "escola" de valores como o companheirismo, a camaradagem e o respeito por adversários, treinadores e árbitros.

Se comparar-mos o número de lesões no rugby com o futebol, verificamos que os números são idênticos (e creio que se verificam mesmo mais lesões no futebol), e um jogador de rugby joga em média até aos 34/35 anos. O mesmo de um jogador de qualquer outra modalidade. Portanto, o rugby não é violento.

    Outro mito diz respeito às classes sociais. Tradicionalmente o rugby é conotado com uma classe social de maior poder económico, ou seja ainda persiste a ideia de que o rugby "é para gente rica". Esta ideia é bastante antiga é vem do facto de o rugby ter começado a ser jogado em universidades, onde só quem tinha um elevado poder económico podia estudar. Hoje em dia nada disto faz sentido, o rugby é para todos e apenas com o contributo de um maior número de pessoas pode desenvolver-se. A título de exemplo, vale a pena referir o trabalho que tem sido realizado pelo Rugby Clube de Belas ou pelas Escolinhas de Rugby da Galiza, trabalhado em zonas geralmente consideradas carênciadas, nos suburbios de Lisboa e levando o rugby a crianças que todos os extractos sociais.

    Por último existem ainda muito a ideia de que é necessário ser-se "grande" para jogar rugby. Muita gente acredita de que o rugby é para pessoas grandes e fortes, e de que os mais "pequenos" não têm lugar numa equipa.

Em relação a esta ideia o melhor é mesmo referir a frase de Jean Giraudoux, um jornalista e novelista francês do sec. XX, "Huit joueurs forts et actifs, deux légers et rusés, quatre grands et rapides et un dernier, modèle de flegme et de sang-froid. C’est la proportion idéale entre les hommes" ou seja "Oito jogadores fortes e activos, dois ligeiros e inteligentes, quatro rápidos e um último modelo de estilo e sangue frio. Uma equipa de rugby é a proporção ideal entre os homens".

 

 

By Pedro Santos

20
Jan12

3x4x3: Regresso da Vecchia Signora

Minuto Zero

 

Anos volvidos ao Calcio Caos, que acabaria por mudar a face do futebol italiano e retirar a hegemonia interna a Juve, finalmente o gigante de Turim parece voltar ao nível dos seus adversários.

 

Com Antonio Conte ao leme, a Vecchia Signora vai construindo novamente uma equipa capaz de lutar pelo Scudetto. A chegada de Andrea Pirlo para o meio-campo, vindo do rival Milan, significou um crescimento enorme não só do sector mas também da própria forma de jogar.

Não parece ainda uma equipa que se imponha veemente face aos adversários, joga sobretudo em função do oponente, variando entre o 4x4x2 clássico e um inovador 4x3x3, que é, na prática um 4x5x1 com alas trabalhadores. Contra o Napoles de Mazzarri por exemplo, Antonio Conte lançou a equipa num esquema de 3 defesas centrais, de modo a colocar nas alas jogadores capazes de impedir as dinâmicas de Maggio e Zuniga peças chave dos napolitanos.

 

 

 

 

20
Jan12

3x4x3: Mais do mesmo

Minuto Zero

 

 

O Santiago Barnabéu encheu-se uma vez mais para assistir ao mais excitante e desejado duelo do futebol europeu na actualidade.


Mais uma vez, José Mourinho optou por uma abordagem estratégica específica para o jogo frente aos eternos rivais. Abdicou de inicio de Ozil, criativo médio-ofensivo, reforçando o meio-campo com Pepe, mais uma vez, médio de recuperação e pressão sempre de olho em Messi.

 

 

 

 

By Tiago Luís Santos

20
Jan12

Porque a vida também é feita a correr...

João Perfeito

 

Ser português é um handicap? Até quando?

 

Na passada quarta-feira, no sempre palpitante Real Madrid – Barça, Pepe pisou a mão a Messi e parece que caíu o Mundo. Várias são as vozes que se fazem ouvir que pedem a irradiação do futebol a Pepe. Os jornais online em Portugal colocam uma imensidão de links para propagandear as imagens. Os próprios portugueses estão interessados em transformar um dos seus melhores jogadores num assassino, num jogador sem qualidade humana, num bárbaro…

Interessante coincidência Pepe é português… E se em Portugal temos tendência para nos rebaixar então os espanhóis fazem de nós o que querem. Custa muito que o melhor Treinador do Mundo seja português, custo muito que o melhor jogador do Mundo seja Português. Custa muito que o melhor clube da história do Futebol utilize no seu onze mais portugueses que espanhóis… Mas agora também custa que o melhor central do Mundo seja português. Não quero com este artigo dizer que Pepe é um santo e que nunca põe em perigo a integridade física dos seus companheiros… Agora nem de perto nem de longe posso seguir nesta onda de crítica feroz ao internacional português. É conotado como animal, como desumano. Até quando é que isto vai acontecer?

Se nos lembrarmos das constantes simulações de Piqué, Busquets, Pedro, Messi e Villa interrogamo-nos de quem é mais desumano. Em que mundo é que vivemos? Num mundo hipócrita? Em que uma pisadela é agredir um colega. Simular e fingir agressões (não estou a dizer que neste caso concreto Messi simulou) não é nada. Por em causa sistematicamente o desportivismo dos colegas. Teatralizar agressões, sem ser tocado (Daniel Alves). Porquê? Se o Barca joga um futebol com a alma, se o Barça quer ser diferente, e não joga para atingir um fim, mas sim pela beleza do jogo. Porque razão existe este constante jogo paralelo desumano? Depois Mourinho é que é especialista em mind games? Messi quando pode chuta sempre a bola contra colegas de profissão e nunca ninguém divulga essas imagens. Porquê? Enquanto nós portugueses continuarmos a rebaixar-nos a Messi e a não a apoiar Ronaldo, a rebaixar-nos a Guardiola e não a apoiar Mourinho, mas agora também endeusar Piqué e rebaixar Pepe. Seremos cada vez mais pequenos que a nossa limitação geográfica… Se nem a nós próprios somos bons, como é que os outros não farão de nós gato sapato…

A mediocridade continua e com esta mentalidade não são milhões de euros que vão acabar com a crise… Porque a crise de auto-estima sempre tivemos e parece que sempre continuaremos a ter. Até quando esta mediocridade acaba? Pode acabar hoje, mas parece que ninguém está para isso…

 

19
Jan12

Buzzer Beater

Óscar Morgado

Fonte da juventude

 

Como já tenho vindo a salientar em crónicas anteriores, sou um grande 'indignado' com as lesões desportivas. Ver grandes atletas no mundo do desporto a não conseguirem actuar em todo o seu potencial devido a problemas físicos deixa-me perturbado: porque eles podiam chegar mais longe e o seu corpo não deixa, e porque não posso testemunhar grandiosas obras.

Não tendo tido mais do que uma lesão prolongada (pulso esquerdo torcido, 3 meses) enquanto fui praticante de basquetebol, convivi com muitos que não tiveram a mesma sorte, ao ponto de terem problemas crónicos em certas zonas do corpo. Posso dizer-vos que nesta modalidade ums sérios candidatos a lesão mais grave e impeditiva são os joelhos (não ficando atrás tornozelos e articulações). É um problema muitas vezes crónico (a nível de artrites) e cujas soluções, incluindo a cirurgia, raramente são permanentes para um atleta de alta competição.

No basquetebol, dada a constante explosividade do jogo, um joelho está sujeito a mais esforço e danos que provavelmente qualquer outra parte do corpo - além disso, não é certamente aquela que aguenta melhor esses danos e esforço. Por vezes há dores daí resultantes que são suportáveis, mas na grande maioria dos casos não são.

E na NBA (onde eu realmente quero chegar com isto), muitas estrelas e jovens de grande potencial já viram as suas carreiras terminadas ou limitadas por problemas nos joelhos: Brandon Roy, dos Portland Trailblazers, reformou-se recentemente devido a já não ser capaz de suportar a intensidade de muitos jogos da NBA, com dois joelhos cirurgicamente reparados. Estava limitado a poucos minutos por jogo e conseguia ser um All-Star, mostrando rasgos e por vezes partidas de excelência. Mas o físico falou mais alto. Na mesma equipa, Greg Oden, visto em 2008 como um quase-certo All-Star por muitos anos quando se tornou profissional, mal conseguiu ver alguma actividade consistente devido a um problema semelhante. Outra das grandes perdas da NBA deu-se com o declínio de Tracy Mcgrady, outro atleta soberbo que após muitas lesões nos joelhos apenas consegue dar minutos consistentes vindo do banco dos Atlanta Hawks...espera aí...

Ele consegue dar minutos consistentes. Eis uma excepção que se tem vindo a confirmar tarde para T-Mac. Após um tratamento numa clínica em Dusseldorf, na Alemanha com um tratamento inovador, que muito sumariamente consiste na manipulação do sangue dos pacientes (redistribuido pelo corpo após adição de alguns elementos que afectam o envelhecimento e o desgaste do corpo) para lhes minimizar o risco de lesão em zonas críticas. Na época passada, ao serviço dos Detroit Pistons, McGrady conseguiu realizar 72 jogos durante a época, algo que a última vez que tinha estado perto de alcançar ocorreu na época 2006/2007, quando ainda estava nos Houston Rockets (71 jogos).

Agora nos Hawks, e já com 33 anos, T-Mac tem sido uma opção viável e produtiva no banco de Atlanta, averbando 7,6 pontos, 3,7 ressaltos e 2,1 assistências por jogo em 19 minutos por partida. E não tardou a aconselhar outra estrela ainda maior a recorrer ao tratamento.

No Verão de 2011, Kobe Bryant, já há alguns anos atormentado por um joelho esquerdo com artrite, tinha vindo a decrescer na sua produção em campo, e muitos já o descartavam como uma força de top 3 na NBA, pelo que a sua produção vinha a diminuir desde 2008, quando foi eleito o MVP da época regular. Esta época, vai com 30,8 pontos de média, 5,7 ressaltos e 5,5 assistências por jogo, a saltar que nem um miúdo a meio dos seus anos 20.

Este é um caso de sucesso, com Bryant a vir recentemente de uma sequência de 4 jogos com mais de 40 pontos marcados. Um outro caso é o de DeJuan Blair, poste dos San Antonio Spurs, que tem tido uma carreira bem sucedida como profissional apesar de ter substituído ambas as rótulas. Com tratamentos semelhantes, podemos estar perante uma revolução positiva no mundo desportivo. Esperemos.

18
Jan12

Lado B

Bruno Carvalho


 Diogo Ribeiro seguido pelos “tubarões” europeus

 

 

Diogo Ribeiro tem 21 anos, joga actualmente na equipa de futebol do Sertanense da II Divisão (Zona Sul), é ponta-de-lança e, no passado domingo, foi observado por emissários do Arsenal e do Chelsea no jogo entre o Fátima e o Sertanense, que o Sertanense perdeu por 3-2, mas em que Diogo Ribeiro foi o autor dos dois golos da equipa da Sertã.

Diogo Ribeiro é um exemplo concreto de que nos escalões secundários do futebol português há jogadores com muita qualidade e, se calhar, não é necessário para as principais equipas portuguesas de futebol recorrer a jogadores estrangeiros com tanta frequência, se estiverem mais atentas aos jovens jogadores portugueses que actuam nos escalões secundários.

Para além do Arsenal e do Chelsea, também o Wolfsburgo, o Marselha, o Mónaco e o FC Porto estão a seguir atentamente a prestação deste jovem avançado português.

Diogo Ribeiro é o melhor marcador da II Divisão (Zona Sul) com 9 golos apontados em 15 jornadas e despertou a cobiça dos chamados “tubarões” europeus pelo facto de já ter feito dois “hat-tricks” esta temporada.

Diogo Ribeiro é um jogador formado nas escolas da Académica de Coimbra, tendo sido sucessivamente emprestado pela Académica ao clube satélite da Briosa, o Tourizense, estando agora ao serviço do Sertanense.

Diogo Ribeiro é também um jogador internacional sub-20 por Portugal e, apesar de não ter participado no Mundial de sub-20 disputado na Colômbia no passado Verão, é frequentemente chamado à selecção de Portugal orientada por Ilídio Vale.

Diogo Ribeiro é um jogador que se assemelha a Nélson Oliveira (jogador do Benfica), pelas suas características físicas e técnicas, e quem já o treinou augura-lhe um futuro muito promissor.

Será Diogo Ribeiro o ponta-de-lança que o FC Porto procura? Ou será que o Arsenal e o Chelsea não vão perder tempo e vão querer assegurar já os serviços deste jovem avançado português?

Estas são questões para serem respondidas nos próximos dias ou nas próximas semanas. 

Na minha opinião, Diogo Ribeiro deveria passar primeiro por um “grande” do futebol português e só depois dar o salto para um colosso do futebol mundial, como o Arsenal ou o Chelsea. Digo isto porque penso que passar de uma equipa não profissional para uma equipa de topo mundial é uma mudança muito grande e pode ser prejudicial para a evolução deste jovem talento português.

Termino com esta questão: Será Diogo Ribeiro um dos futuros pontas-de-lança da Selecção AA Portuguesa de futebol, a par de Nélson Oliveira, daqui a cerca de 5 anos?

 

18
Jan12

Porque a vida também é feita a correr...

João Perfeito

A continuidade como triunfo na época da mutação - Benfica

 

 

Finda, a primeira volta do campeonato o Benfica é o líder isolado da classificação, contabilizando 12 vitórias e 3 empates, mantendo a sua invencibilidade e sendo constantemente conotado como o mais forte candidato ao ceptro Nacional.

Face a todo um contexto desolador da pretérita época, sobretudo  devido aos anceios deixados de 2009/2010 parece que facilmente tende-se a explicar o comportamento do Benfica na presente edição da prova como uma mutação de rendimento. Tenta-se encontrar aquilo em que o Benfica fez mais e melhor, os novos ingredientes duma receita de sucesso. Este Benfica parece que se emancipa do da época anterior e regressa ao de à dois anos. Estranho, quando apenas 7 jogadores transictam da época do título e mais estranho a ainda se termos em conta que a equipa manteve o mesmo treinador. Sucesso (grandes exibições)- fracasso (péssimas exibições)- Sucesso (epopeia europeia) é um caminho que a comunicação social quer fazer, no fundo porque é a mutação que a alimenta, na era da reprodutibilidade, na era do digital são as mudanças que fazem o mediático, que fazem ganhar dinheiro e audiências.

Mas uma breve reflexividade própria, derivada duma consciencialização interior refuta todas estas teorias de constante e regular alterar do estado de coisas…

No fundo o actual Benfica não é mais que um upgrade da época transacta. Aquela equipa que foi vencer 2-0 na casa do tubarão europeu FC Porto, aquela equipa que somou 18 vitórias seguidas, aquela equipa que contabilizou 25 vitórias em 26 jogos em competições nacionais…

O Benfica mesmo nem sempre jogando bem, tem uma eficácia tremenda. Finda a derrota dramática em Guimarães no início aterrador da época passada, a equipa em jogos a doer só voltou a perder pontos no campeonato frente aos grandes (incluo o Braga neste lote) e o Gil Vicente, na já habitual malapata de arranque de campeonato. O Benfica em condições normais ganha 95% dos seus jogos ditos fáceis e em condições anormais ganha pelo menos 90%.

Fazendo uma análise mais táctica, penso que esta evolução começou no treinador. Jorge Jesus aprendeu com os erros a traduziu a sua vertigem da velocidade para uma dinâmica de transição (defensiva/ofensiva) equilibrada. Se pensarmos em Witsel resolvemos grande parte dos problemas… O prodígio belga tem em si meio Zidane e meio Makelele. Sendo no plano actual dos poucos médios do futebol Mundial que defende e ataca numa voltagem de altíssimo gabarito. Mas se Witsel é um Ramires técnico, Aimar sente-se mais confortável e mesmo recuando, sente mais segurança e pode tabelar mais não tendo de estar em todo o lado ao mesmo tempo. Nas alas o Benfica tem 3 excelentes jogadores. A magia e rapidez de Gaitán fazem dele um assistente nato, do outro lado Bruno César alia força, velocidade, inteligência, movimento interior e um fortíssimo remate como cartões de visita. Com a titularidade intermitente aparece o craque Nolito. Apesar de extremo Nolito tem uma excelente capacidade finalizadora. Nolito alia uma enorme verticalidade (em contra-ataque), com uma horizontalidade temível no um para um, sem esquecer o extraordinário enquaramento de remate e o faro incessante pelo golo. Javi Garcia é um jogador que melhora a olhos vistos, sendo actualmente dos melhores médios a fazer compensações no Mundo. Na defesa Garay e Luisão constituem uma das mais poderosas duplas do futebol Mundial, intersectando técnica, força, liderança, agilidade, posicionamento, entendimento , clarividência  e boa saída para o ataque. Na lateral direita o Benfica tem em Maxi Pereira uma das suas melhores figuras, considerado pela UEFA como um dos melhores do Mundo na sua posição… Na baliza Artur embora longe de estar no patamar endeusado da comunicação social tem revelado enorme capacidade. A quantidade de frangos e de grandes exibições é similar à de Roberto, mas o momento da equipa dá-lhe tranquilidade para que se sinta seguro e confiante.

Posto isto, penso que é fácil perceber que este Benfica não é mais que uma inovação do ano passado. Continua a estar longe do futebol espectacular de à 2 anos, mas cada vez mais concilia pragmatismo, inteligência, resultado com intensidade, goleadas e futebol fluente. O Benfica consegue jogar bem sem jogar bonito.

Por isso, sou da opinião de que o Benfica tem evoluído continuamente ao longo dos anos, descobrindo lacunas e colmatando-as. Esta equipa é já candidata à Champions? Não. Mas é claramente a equipa que se perfila para liderar a segunda linha europeia… No fundo o Benfica é tendencialmente a equipa que todas as equipas querem evitar depois do grupo de equipas que querem forçosamente evitar. Depois de  Real, Barça, Chelsea, Bayer, Milan e Inter vem invariavelmente Benfica. O primeiro passo já está dado.

 

 

17
Jan12

Steve Field

Steve Grácio

 Sporting, a lacuna intermédia

Com o maior investimento dos últimos anos, a equipa de Alvalade encontra-se, no final da primeira volta, praticamente arredada da luta pelo título. Aconteça o que acontecer nas taças, só a Liga Europa poderá salvar a época. Com um dos melhores treinadores portugueses e um bom plantel, um dos principais problemas da equipa prende-se com a zona de construção.

O Sporting quando inicia o seu jogo a partir da linha defensiva usa, preferencialmente, o passe longo, quando não consegue sair pelas laterais. Assim, construção do jogo do Sporting fica previsível, pois os adversários sabem que a bola quando está nos centrais vai procurar, na maioria das vezes, Wolfswinkel. Ou seja, o Sporting abdica de um dos sectores na sua fase de construção, o meio campo, o cérebro de qualquer equipa. Isto ocorre muito por culpa dos médios da equipa que, embora grandes jogadores, não tem características para o que o Sporting precisa: o Sporting precisa de pelo menos um jogador que recue e pense o jogo. Comparando com os seus rivais, observamos que o Benfica tem em Witsel e, sobretudo, Aimar essa tarefa (o argentino, apesar de ser o médio mais avançado recua muitas vezes para a zona dos centrais e de Javi) e observamos Moutinho ou Defour no Porto a pegar no jogo da equipa.

Deste modo, julgo que a derrota em Braga não se deve só a um meio campo destemido, com Schaars, Elias e Matias, mas também a esta lacuna na equipa. Com uma profundidade nas alas acima da média, o Sporting crescerá quando alguém recuar e organizar o jogo, ao invés de abusar do passe longo.

17
Jan12

3x4x3: Milan de Allegri

Minuto Zero

 

 

Como detentor do Scudetto os rossoneri partiram esta temporada como favoritos a nova conquista do título italiano. Apesar da emancipação da "classe média" composta por Napoles, Roma, Lazio e Udinese, e das promessas Inter e Juve, acabaria rapidamente por cimentar uma posição de destaque na liderança do campeonato, entretanto tomada de assalto pela Vecchia Signora.

 

Na base do esquema de Allegri, está uma forma de jogar que à muito é imagem de marca do gigante de Milão. Com 4x3x1x2, está na zona central a chave táctica da equipa a defender e atacar, mas sobretudo, na ligação dos dois momentos: Bommel, ocupa agora a posição 6, herdada de Pirlo, onde é verdadeiramente mais trinco do que pivot de construção, apesar de saber bem o que fazer com bola, não existe comparação com o talento do antigo trequartista. Ganha musculo, perde genialidade. Nocerino e Aquilani, são depois habituais interiores da equipa, posição chave desde os tempos de Carlo Ancellotti, na altura ocupados por Gatusso e Ambrosini.

É na zona dos interiores que está a zona de recuperação predilecta da equipa e a base do funcionamento do jogo colectivo. Se o 4x4x2 (losango, ou 4x3x1x2), deixa as alas no sector intermédio sem cobertura, pela ausencia de médios-ala ou extremos, é na zona interior que estão concentrados mais jogadores. Deste modo, pede-se aos adversários que em posse de bola, joguem sobretudo pelas faixas, cobrindo a zona interior com jogadores de grande capacidade de recuperação, para que o adversário poucas mais soluções tenha do que jogar pelas faixas, onde nos últimos 30 metros são encontram enorme oposição tanto de interiores como dos defesas contrários.

Sistema por excelência para futebol pausado, ideal para controlar jogo sem bola, deixando adversário bem longe das redes. Na zona interior, estão montadas as armadilhas tácticas de recuperação: no caso do Milan, Nocerino e Aquilani, sempre com ajuda próxima da "descoberta" Boateng.

 

Com Ancellotti a zona "entre-linhas" (média e avançada), era ocupada preferêncialmente por Kaká, Seedorf, ou numa primeira fase por Rui Costa. Depois da recuperação de bola na zona interior perto do circulo de meio-campo, é necessário ter jogadores com capacidade de aparecer para vir buscar bola e fazer transporte com qualidade provocando desequilíbrios. Kaká era o modelo de jogador perfeito no Milan de Acellotti, e um pouco por isso, seria o principal responsável pelo jogo ofensivo da equipa campeã europeia em 2007.

 

Hoje, nesse sector, surge Boateng, médio raçudo mas de grande qualidade técnica. Não vira a carta à luta, nem sequer se nega a recuar para zona dos interiores. Jogador ideal, para fazer do meio-campo milanês um dos mais coesos da actual panorama europeu.

A espaços, surge Seedorf ou Emanuelsen também nessa zona, dando genialidade e capacidade de trabalho, jogadores diferentes para momentos distintos. Por isso, se o Milan de Ancellotti libertava génios pela acção do interiores, o de Allegri é mais lutador ainda, capaz de precionar 90 minutos o adversário, entregando as acções ofensivas ao talento dos seus avançados e avanços dos laterais (Antoninni, Abate ou Zambrotta).

 

No ataque, longe vão os tempos de Shevchenko e Inzaghi. Ibraimovic, monopoliza as acções atacantes, baixando no terreno para receber e tabelar, num vai e vem constante que muito depende da sua vontade de ajudar a equipa. Por vezes quer ser ele a decidir contra o mundo, outras vezes decide mesmo. Ao lado, Pato ou Robinho, dois modelos de jogador bem diferentes. Pato é mais forte na zona interior, esclarecido, agarra-se menos à bola, entra melhor no espaço e finaliza com mais eficácia. Robinho por seu turno cola-se mais à faixa esquerda, um falso extremo em movimentos interiores, mais longe de Ibra. Há ainda Antonio Cassano, mais um irreverente talento italiano, reciclado por Allegri neste Milan, e que até à lesão grave era uma das figuras da equipa.

 

By Tiago Luís Santos