Porque a vida também é feita a correr...
E 15 anos depois o voo da águia supera o rugido do leão
Sim, caro leitor, é mesmo verdade, o Benfica sagrou-se campeão nacional de atletismo sénior destronando o todo-poderoso Sporting. Foi no passado Domingo, em pleno Estádio Universitário, que a turma juvenil benfiquista destronou a veterania leonina.
O feito alcançado pelas jovens águias merece ainda mais reconhecimento por ter sido sobre o actual 4º classificado da Liga dos Campeões de Atletismo e em 2009 e 2008 vice-campeão europeu.
Se o leitor estiver fora da realidade do atletismo, certamente pensará que me estarei a equivocar ao falar em “turma juvenil” e “jovens águias” da equipa do Benfica - mas não. Esta é a equipa de seniores do Benfica formada grande parte por atletas que ainda estão em escalões de formação. No fundo, este é o verdadeiro segredo do Benfica. O Sporting vive à sombra de nove títulos conquistados, de pódios europeus e está a descurar o futuro. Um pouco à imagem, em plano contraditório, do futsal, onde o Benfica estagna e o se Sporting renova.
No actual quadrante masculino do Benfica : Rui Pinto (1992 -1º 5000 metros), Emanuel Rolim (1993 - 2º 1500), Tiago Aperta (1992 - 1º Dardo) e Renato Silva (1991 - 2º 800 metros) tiveram um papel deveras preponderante para o triunfo dos encarnados. A diferença de 156 para 154 pontos explica bem a igualdade entre as equipas, um campeonato decidido nos pormenores.
Apesar da ascensão que o Benfica tem realizado no atletismo nacional, fruto do exacerbamento das novas pérolas nacionais, o favoritismo recaía para os lados de Alvalade. A composição da equipa, grande parte dela habitual frequentadora da selecção nacional, abria claramente boas perspectivas para os leões chegarem aos 10 triunfos consecutivos. O Benfica, tal como os seus responsáveis frisaram, ainda não tinha como objectivo prioritário o título, esperando mais a longo prazo que a evolução dos jovens pudesse assumir a candidatura duma forma mais veemente.
Mas o inevitável aconteceu, um conjunto de peripécias proporcionou que a surpresa se efectivasse. A ascenção meteórica de Jorge Paula nos 400 barreiras e agora também 400 planos, a derrota do campeão nacional de disco, Jorge Grave, para Marco Fortes, a vitória da jovem estafeta de 4x400 proporcionaram que o sonho fosse possível.
O Sporting tem muitos motivos para assumir amplos receios. Uma equipa que vive essencialmente dos lançamentos e das dobragens dos medalhados olímpicos Rui Silva e Francis Obikwelu. Nos 400 metros está a perder para o eterno rival Benfica e nos saltos apenas Edi Maia venceu.
O Benfica, por seu turno, para além de integrar atletas juniores contempla vários sub 23 que nas provas de meio-fundo e velocidade vencem ou pelo menos em grande parte ficam em segundo lugar.
O Sporting está a descurar a renovação do seu arsenal. Com um 4º lugar na altura e um 3º no lançamento do dardo hipotecou por completo todas as suas aspirações. Nesta prova integrou jovens que estão longe de lutar de igual para igual com as promessas benfiquistas e os resultados foram uma consequência desta má gestão.
Mais do que falar da vitória do Benfica, penso que é importante falar da previsível queda que o Sporting possa vir a ter. A equipa não tem soluções para render Obikwelu e Rui Silva (4 provas). Por outro lado, nos lançamentos, os protagonistas são sempre os mesmo e a renovação necessária não ocorre - o Benfica, colhendo as sementes da progressão das disciplinas técnicas do atletismo nacional, dominará nos próximos anos. Nos saltos, o Benfica sempre demonstrou superioridade…
O Benfica conta com o futuro do meio-fundo nacional (Rui Pinto, 3º classificado europeu júnior de cross), Emanuel Rolim (recordista nacional juvenil de 1500 metros), o futuro da velocidade Bruno Fernandes (campeão júnior de 100 e 200), o recordista nacional das barreiras com apenas 22 anos (Rasul Dábo), o sucessor de Nélson Évora no triplo e confirmação no comprimento (Marcos Chuva) e ainda o recordista nacional sénior, com idade júnior, do lançamento do dardo Tiago Aperta.
A formação da luz é ainda actual campeã nacional de juniores, sub 23 ao ar livre e pista coberta, com clara supremacia perante o rival da segunda circular.
Os tempos poderão estar a mudar. Os tempos de Carlos Lopes, Mamede, gémeos Castro já lá vão. O Sporting ameaça deixar o domínio nacional e, mais preocupante, o primeiro pelotão europeu.
O Benfica ambiciona conquistar o prestígio que outrora foi do Sporting.
Interessante, esta fase do desporto nacional em que no hóquei, futebol, futsal e atletismo, os grandes dominantes estão a perder lugar. Será este um sintoma da ataraxia nacional face à ideia ilusória de eterno sucesso?
O futuro responderá e a presença na Liga dos Campeões de Atletismo na próxima época ajudará a trilhar a primeira pedra deste caminho, que os benfiquistas esperam que seja de sucesso.
By João Perfeito