Área de Ensaio
A Participação de Portugal no Campeonato do Mundo de Rugby
Numa altura em que nos aproximamos do Campeonato do Mundo de Rugby, que terá lugar na Nova Zelândia já a partir de Setembro, creio ser altura de reflectir sobre a participação de Portugal no último Mundial e quais os dividendos que daí retirámos.
A Selecção Portuguesa de Rugby qualificou-se em Março de 2007, vencendo o Uruguai depois de uma série de repescagens. Logo a seguir à qualificação ficou a saber-se que os adversários no Mundial seriam de peso (Escócia, Itália ou os All Blacks). Foi logo estabelecido que a preparação dos jogadores seria de cariz profissional (apesar dos jogadores serem amadores) de forma a fazer a melhor prestação possível. E mesmo sem vencer qualquer partida, a postura dos jogadores dentro e fora do campo foi excepcional, defendendo sempre o nome de Portugal.
Contudo não é isto que pretendo analisar, pois creio que os jogadores fizeram tudo o que podiam.
Logo a seguir à qualificação, e durante todo o certame, “choveram” felicitações de vários quadrantes da sociedade. Felicitações e promessas.
Tanto da parte da Secretaria de Estado do Desporto, como da Federação Portuguesa de Rugby ou mesmo do próprio IRB (International Rugby Board, o órgão que tutela o rugby mundial), foram feitas promessas de que o rugby português seria ajudado a crescer. Acreditou-se que iríamos “dar o salto” e conseguiríamos criar as bases para um desenvolvimento sustentado que nos permitisse assumirmo-nos como uma equipa de segunda linha europeia logo depois das crónicas participantes do Torneio das 6 Nações. Fizeram-nos crer que as ajudas chegariam, que se criariam infra-estruturas condignas e que se apostaria na formação tentando por esse caminho descobrir novos valores.
Quatro anos passaram e o que é que mudou? Chegou o dinheiro para desenvolver os campos e as restantes infra-estruturas? O rugby em Portugal desenvolveu-se ao ponto de conseguirmos uma nova qualificação para outro Mundial? Conseguimos que os nossos clubes passassem a disputar alguma competição europeia de clubes? O nosso campeonato tornou-se mais competitivo? Criaram-se condições para que os nossos jogadores construíssem carreiras a nível europeu? Infelizmente a resposta a todas estas perguntas é não. Nada disto se conseguiu. Falhámos a qualificação para o Mundial deste ano, os nossos clubes não têm sequer hipótese de disputar uma qualificação para a Heineken Cup ou para a European Challenge Cup, aliás o nosso campeonato continua tão “competitivo” que quando começa já se sabe quais serão os 4 que se qualificarão para o play off do título. Salvo raras excepções, Direito, CDUL, Belenenses e Agronomia são os crónicos candidatos actualmente (e os restantes clubes não parecem importar-se muito). Em relação aos nossos jogadores, alguns houve que a seguir ao mundial conseguiram oportunidades em alguns clubes na França, Itália ou Espanha, mas a maioria regressou a Portugal passado pouco tempo.
À luz de tudo isto, podemos concluir que a participação de Portugal no Campeonato do Mundo de Rugby na França em 2007, pouco ou nada trouxe de positivo ao rugby português uma vez que está praticamente tudo na mesma, pouco ou nada se aproveitou e desenvolveu e muitas das promessas que foram feitas ou nunca se chegaram a materializar ou foram certamente muito mal aproveitadas.
Mas não podia concluir sem referir alguns aspectos positivos pois, apesar de poucos, também os houve. Reafirmo que não por culpa de quem prometeu e não cumpriu, mas sim por causa dos homens que dentro do campo deram tudo para honrar as camisolas que envergavam (sim porque no rugby, especialmente na selecção, ainda há “amor à camisola” pois só assim se explica que os jogadores façam os sacrifícios que fazem).
É indiscutível que hoje se fala mais de rugby do que antes da nossa participação no mundial. Hoje em dia muito mais gente conhece o desporto e aprecia-o. Associado a isto, cresceu também o número de jovens que pratica a modalidade, algo que para mim é imprescindível para o sucesso e crescimento da modalidade.
Creio que foi sobretudo isto que se aproveitou na nossa presença.
Obviamente que as ajudas que nos prometeram teriam sido bem-vindas, contudo tem que partir das instituições que tutelam o nosso rugby o caminho a seguir. Caberá à federação, e aos clubes, definir se querem “dar o salto” que nos permita batermo-nos de igual para igual com qualquer outra selecção, ou se querem continuar neste paradigma em que os sucessos são espontâneos e fruto do trabalho e paixão de umas dezenas de jogadores.
By Pedro Santos