Formar, Criar, Consolidar, Competir e Ganhar
Penso que este deve ser o seguimento estrutural de qualquer desporto.
Ao praticar um desporto necessitamos de etapas muito concretas para poder concretizar os nossos objectivos.
Olhamos para a nossa vizinha Espanha, e temos um enorme modelo desportivo. País constantemente a lutar por ser campeão mundial de basquetebol, andebol, futsal, hóquei em patins, futebol. Para não falar das referências individuais do ciclismo, ténis ou atletismo.
De certa forma não nos podemos comparar à Espanha, pois esta apresenta uma população muito maior que a nossa. Mas na verdade se assim fosse a Espanha poderia comparar-se à França, à Alemanha, à Ucrânia?
Parece-me que não. Mais do que viver na tristeza incessante de que somos os país pequeno e de que muito já fazemos nós é preciso pensar no futuro. Redimensionar objectivos e métodos de trabalho- porque só assim se pode vencer.
A Islândia tem a população da Madeira (300000 habitantes) e é a actual vice-campeã olimpica de Andebol. Porque? Por acaso? Não me parece. Porque trabalha o andebol de forma sustentada e continuada. Trabalhou num processo contínuo e ganhou uma geração de jogadores. Portugal é o actual vice-campeão europeu de Juniores de Andebol. Mas depois? Depois perdem-se uns quantos jogadores e a equipa fica fragmentada de qualidade que outrora foi sua. É preciso trabalhar para aparecerem mais Carlos Resendes (andebol), Migueis Maias (Voleibol) e Carlos Lisboas (Basquetebol). Todas estas figuras tiveram uma carreira brilhante mas viveram-na infelizmente sós. Sós de colegas que os acompanhassem e pudessem trazer resultados dignos à modalidade.
Mas não ficamos por aqui, Diana Gomes, Tiago Venâncio e outros lideraram rankings europeus e mundiais na natação - depois desapareceram.
João Cunha e Silva foi líder do ranking mundial de juniores do Ténis. A carreira dele é uma autêntica lástima comparada com o estatuto que teve enquanto júnior.
Mais importante do que tentar ganhar um jogo, um set, uma corrida é tentar ganhar uma geração.
Não se ganha uma geração sem trabalho. Sem trabalho aparecem talentos de vez em quando, mas que sem o acompanhamento competitivo necessário não conseguem catapultar a modalidade que representam para o estatuto que eles tem. Daí que Carlos Resende seja conhecido perante todos os amantes do andebol europeu, mas Portugal nunca se tornou uma equipa conhecida.
Até no futebol vivemos assim. Tirando Cristiano Ronaldo não temos nenhum jogador claramente fora-de-série. Nenhum jogador que qualquer treinador quisesse ter na sua equipa. Imaginem que Portugal e Espanha aboliam as suas fronteiras e formavam uma equipa ibérica, quantos jogadores lusos eram claramente titulares? Apenas Ronaldo e Coentrão.
Isto é preocupante. Tem que se tornar medidas para potencializar o desporto. Às vezes oiço jogadores da II ou III divisão profundamente descontentes por não ser profissionais. Eu penso, se em Portugal todos fossem profissionais até as Distritais então quanto dinheiro havia ainda para as restantes modalidades?
Todas as cidades têm uma equipa de futebol e tem inúmeros miúdos a jogar futebol. As equipas de futebol no nosso país são elevadíssimas. Depois o que acontece. A maior parte deixam de jogar quando vão para a universidade ou arranjam trabalho e o Benfica, o Sporting e o Porto jornada após jornada ganham os seus jogos por 5, 6 ou 7 . O que é que um Cedric, um Nélson Oliveira, um Roderick ou um Sérgio Oliveira evoluí a jogador nos juniores? Nada, apenas estagnam.
Quantos talentos de jovens em Portugal poderiam estar ao serviço das modalidades e estão no futebol? Quantos campeões mundiais e olímpicos apenas o são porque por acaso a vida encarregou-se de lhes fazer abandonar o futebol e abraçar outra modalidade.
Onde eu quero chegar é que temos de apostar forte no desporto escolar. Abolir a Educação Física e tentar com que cada jovem encontre o seu desporto. Tentando fazer vê-lo que é esse deporto em que pode ter futuro.
Eu moro numa cidade (Vendas Novas) que tem a melhor pista sintética abaixo do Tejo, tem uma das melhores corridas de Portugal. Mas não tem um único treinador de atletismo, os resultados são absolutamente medíocres. Quando teve um treinador produziu-se um campeão nacional de desporto escolar, um lançador de dardo dos melhores do país e dois velocistas que davam cartas nos escalões jovens.
Tem de se trabalhar para que cada escola tenha um núcleo de basquetebol, andebol, voleibol, atletismo, ténis… Não é assim tão utópico quanto isso.
O trabalho passa por uma maior mediatização destes desportos, uma divulgação que alicie os jovens a abraçarem determinadas modalidades em vez do futebol. Trabalho rigoroso e diário e os resultados apareceram.
Esta estruturação passa também por uma mudança do sistema educativo em Portugal. Permitir com que as aulas sejam maximizadas ao máximo, encurta a carga lectiva permitindo aos alunos terem aulas de manhã e durante a tarde poderem praticar diariamente o seu desporto de eleição nos pavilhões das respectivas escolas - não custa assim tanto dinheiro.
Quem pratica um desporto a sério, sabe que não é a treinar duas ou três vezes por semana que vai a algum lado.
Aqueles que não gostassem de desporto teriam outras actividades: música, teatro…
Parece uma ideia, tão básica e tão evidente. Mas às vezes o mais difícil é efectivar o fácil.
Antes de acabar o meu artigo, gostaria de frisar que esta minha ideia só ia beneficiar o futebol. Os melhores tinham mais competitividade, menos equipas fáceis com quem jogar e evoluíam rumo a um patamar de top, em que em vez de se produzirem Eusébios, Figos e Ronaldos em 50 anos. Produziam-se 3 ou 4 vezes mais.
Apenas uma questão de formar para criar para consolidar para competir para Ganhar. Só assim se pode vencer continuadamente e acabar uma vez por todas por uma esperança incessante que apareça um talento que apenas de vez enquanto eleva o nosso nome rumo ao topo do Mundo.
by João Perfeito