16
Dez10
Steve Field
Minuto Zero
Formação: ganhar ou formar?
Nos nossos dias, com a crescente crise económica mundial, os clubes (sejam eles de que desporto sejam) têm vindo a ter uma aposta cada vez mais frequente nos escalões de formação: tentam, apesar dos recursos financeiros escassos, garantir melhores condições aos atletas, apostam cada vez mais sem medo em jogadores jovens nos seniores…Porém, qual será a política mais eficaz de um clube? Apostar na sua maioria em formar bons jogadores ou privilegiar a conquista de vitórias?
Obviamente, o ideal seria conciliar as duas variáveis, ou seja, aliar os bons resultados desportivos à formação de grandes jogadores. Mas, tendo de optar por uma delas (isto porque, na minha óptica, existe um ‘trade-off’ evidente pois, ao privilegiar uma delas, a outra vai sofrer uma recessão), quanto a mim, os resultados devem de ter prioridade. Sei que o leitor, ao ler isto, vai discordar comigo e aceito porque entendo o outro lado, mas irei tentar fundamentar esta opinião que me parece invulgar.
Deste modo, porquê apontar maioritariamente para a obtenção de resultados?
1 – As vitórias são o principal factor motivacional de qualquer desportista e, consequentemente, estando motivados mais jogadas lhe irão sair bem, o que é óptimo para a sua formação, para a sua aprendizagem. (este factor baseia-se num principio motivacional, ou seja, a motivação é o factor mais preponderante para obter êxito)
2 - Se a política de um clube passar por o lema de ‘não interessa o resultado, o que conta é jogarmos bem’, pode dar resultado em certos jogos pois alivia a pressão, mas prejudica a mentalidade do desportista.
3 – É obvio que todos os jogadores gostam de jogar bem, mas de que é que isso serve se no final do jogo estivermos no balneário a chorar por uma derrota? Além de que, por experiência própria, um jogador, nos escalões de formação em Portugal, se não andar numa equipa que ande nos lugares cimeiros não é visto, por melhor que seja. (como é evidente, se esse jogador for um Messi, será visto. Estou a referir casos ‘normais’)
4 – Alguns leitores poderão ainda dizer que não concordam com esta minha visão pois um jogador pode chegar aos seniores bastante bem mentalmente, pelos troféus adquiridos, mas não estar no auge das suas potencialidades. Até pode ser verdade, mas mais uma vez refiro que o psicológico é fundamental, neste caso pela exigência do futebol sénior (por exemplo, para o desportista não se perder nas ‘más vidas’). Quantos casos já viram de jogadores com elevado talento mas que, por este ou aquele motivo, não têm sucesso? Pelo contrário, refiro o João Paulo, jogador actualmente no Guimarães, formado na União de Leiria, que aparentava ser um jogador ‘normal’, mas que é profissional e fez uma carreira interessante. Muitos colegas seus de elevado potencial certamente nem um jogo sénior fizeram.
Julgo que um jogador que seja razoável/bom se não tiver palmarés em termos de formação (que o prepara psicologicamente), por norma, não atinge o escalão profissional. (estou a ter como exemplo o futebol, desporto que estou mais a par, mas certamente que não deve de variar muito nos outros desportos colectivos)
Para complementar esta minha perspectiva, tenho ainda a referir que, há poucos anos, fui um jogador razoável que, não querendo armar-me em bom, podia ter sido jogador de uma segunda divisão, era dos melhores na minha posição no distrito. No entanto, (lá está, não era um Ricardo Carvalho, se fosse teria sido irrelevante) talvez por falta de ambição continuei no clube onde me sentia bem…era capitão, tinha amigos excelentes. Porém, todos os anos lutávamos para não descer de divisão. Formei-me como Homem, joguei (que é essencial na formação), aprendi muito, mas…não ganhei! Resultado? Vim estudar para Lisboa e futebol, nada. No futebol, forma-se ganhando.
Concluindo, é importante apostar nas potencialidades dos atletas, é importante rodar o plantel e fazer alinhar todos os jogadores mas…só se houver vitórias!
by Steve Grácio