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Dez10
Voleibol à Sexta - Semana Melhores do Ano (2010)
Minuto Zero
Flávio Cruz, uma figura do voleibol português
À semelhança do que fez o Jorge na passada terça-feira, escreverei esta semana, a Semana Melhores do Ano, sobre uma figura do panorama português. Para não fugir à regra, porque esta crónica dá pelo nome de Voleibol à Sexta e porque fiz minha a luta de levar um pouco mais longe uma modalidade que muitos praticam (é a segunda modalidade federada mais praticada, depois do futebol, em Portugal) mas que quase todos os outros desconhecem, decidi expor os meus argumentos sobre a figura do voleibol português do ano 2010.
Não é uma escolha fácil, essa de eleger um, em vez de uma equipa, já que o voleibol é provavelmente um dos desportos em que o colectivo pesa mais, em desprimor do indivíduo enquanto tal (talvez à semelhança do rugby, na minha opinião). Além disso, são vários os parâmetros que pesam nesta escolha: se fosse falar aqui da revelação do voleibol português falaria sem dúvida do distribuidor júnior Miguel Tavares, do SL Benfica; no voleibol feminino teria obrigatoriamente que referir as equipas da formação do Lusófona VC; como estrondosa «re-aparição» mencionaria Hugo Gaspar.
Apesar de todas estas opções, acabo por chegar à conclusão que a figura do ano 2010 foi o internacional português de 27 anos, Flávio Cruz, que, depois de ter conquistado o Campeonato Nacional 2009/10 com o SC Espinho, alinha nesta nova época pelo SL Benfica – e com óptimos resultados, há que dizê-lo.
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Fonte: Jornal Record |
Depois de uma época absolutamente irrepreensível dos tigres na temporada passada, Flávio Cruz veio, juntamente com Hugo Gaspar, Rafinha, Dustin Schneider, etc, reforçar este ano o plantel do SL Benfica, que precisava da mudança. O que faz então com este ponta, de 1,94m, seja atleta do ano 2010?
É um dos jogadores mais inteligentes a actuar no Campeonato Nacional; apesar de não ser uma «bomba» de força e de não ser explosivo como vários outros (vem-me rapidamente à memória Tomas Aldazabal, seu ex-companheiro no Sporting de Espinho), a sua eficácia em situações ofensivas é incrível: a rápida (e muitíssimo bem feita) leitura de jogo permite-lhe determinar em praticamente todas as jogadas qual é a melhor opção de ataque. Mais do que isso, é também capaz de pôr em prática da melhor forma a que considerou como tal. Assim, Cruz brinda-nos em cada novo jogo com situações de ataques estrondosos, colocações perfeitas e amorties notáveis nos momentos em que ninguém espera. Além disso, joga com o bloco adversário como muito poucos sabem fazer, transformando situações de clara desvantagem em pontos favoráveis à sua equipa.
Se tudo o que acima referi seria mais do que suficiente para pôr o atleta na lista dos melhores do ano, é sobretudo a sua capacidade defensiva que o distingue de todos os outros grandes jogadores. Voltando ao Benfica, porque é impossível falar de um jogador de voleibol sem falar da equipa em que se insere, não podemos deixar de notar que a grande diferença deste Benfica para o da época passada é a recepção e a defesa, que estão num nível muitíssimo mais elevado. Já aqui referi, noutra altura, que o primeiro passo para o bom ataque é uma óptima recepção, por dar ao distribuidor todas as opções que queira: é exactamente essa óptima recepção que Flávio Cruz traz para o Benfica deste ano, e é isso que permite aos encarnados ocuparem hoje o primeiro lugar da classificação (num campeonato em que nada está decidido, e onde há vários candidatos ao título, é verdade).
Também na defesa, sobretudo na defesa baixa, o jogador faz uma diferença monstruosa: é a capacidade de leitura que lhe permite saber onde colocar a bola no ataque e também antever muito bem para onde irá o próximo ataque adversário. Essa inteligência e leitura de jogo, associadas a uma grande rapidez (apesar de tudo, nem sequer é um jogador nada baixo, e não nos dá essa impressão quando o vemos jogar) fazem com que seja um deleite observar Cruz a pôr em jogo bolas que nos pareceriam indefensáveis.
Confesso que foi uma alegria imensa para mim saber, este Verão, que Flávio Cruz, como Hugo Gaspar, ia integrar o plantel do Benfica: não por qualquer fanatismo em relação ao clube (digo-me adepta de um clube que, infelizmente, acabou há vários anos com a sua equipa de voleibol – que tinha até grandes resultados –, o Sporting), mas porque é uma possibilidade de se verem, em Lisboa, grandes atletas. Trata-se de ir um bocadinho contra a onda da concentração dos grandes nomes no Norte…
Acabo com uma pequena anotação: não posso esquecer Wilfredo Leon. O jovem cubano de 17 anos que já referi anteriormente, merece sem dúvida ser mencionado como um dos melhores do ano. Depois da revelação em 2009, este ano observou-se um trabalho fantástico de consolidação técnica e táctica. Não nos esqueçamos que, no voleibol, o auge é geralmente atingido entre os 25 e os 28 anos: podemos apenas imaginar no que fará Leon ao longo dos 10 anos que lhe faltam para isso.
by Sarah Saint-Maxent