Área de Ensaio
A Realidade do Rugby Nacional
A fase regular do nosso principal campeonato, a Divisão de Honra (ou Campeonato SuperBock), chegou este fim de semana ao fim, e apesar da alguns resultados já serem esperados, outros vieram apenas demonstrar as desigualdades que existem no principal escalão do rugby português.
Um dos jogos mais esperados da jornada decorreu no sábado, na Tapada, a casa da Agronomia. O jogo já pouca importância teria na tabela classificativa, uma vez que a Agronomia já tinha garantido o primeiro lugar na fase regular, mas de qualquer forma este jogo é sempre um "derby" do nosso rugby. O CDUL, também já apurado para a próxima fase, tentava garantir o segundo lugar. O resultado cifrou-se numa vitória do CDUL por 24-14, vitória essa que não foi suficiente para aguentar o 2º lugar, uma vez que o CDUL não garantiu o ponto bónus ofensivo (apenas marcou 3 ensaios). A Agronomia por sua vez, enfrentou o jogo com a natural descontracção de quem sabe que nada tem a perder ou ganhar neste tipo de jogos, resguardando-se para os jogos que decidirão o titulo.
Em Monsanto, o Direito recebeu o Benfica e levou o jogo de vencido por esclarecedores 57-3. O Direito com os 5 pontos desta vitória (4 da vitória, mais um ponto bónus ofensivo) ultrapassou o CDUL na tabela e acaba a fase regular em 2º lugar. Já o Benfica que ainda tinha esperança de ultrapassar o CDUP na tabela, viu essas expectativas goradas e acaba assim a fase regular em 7º lugar. Este resultado mostra a diferença de qualidade das duas metades da tabela, mas pior que isso, mostra como o rugby do Benfica passa por dificuldades, o que num clube histórica não indica nada de bom. Aliás ao longo de toda a época ficou patente as dificuldades que o Benfica ultrapassa, dificuldades essas que em grande medida vêm do facto do Benfica não ter escolas de formação nem condições condignas de um clube desta dimensão. Apesar desta ser uma secção autónoma, a direcção do clube deveria dar mais apoio, no mínimo para honrar o passado do rugby do Benfica que tantas conquistas deu ao clube, e para reforçar a ideia de ecletismo.
Num outro jogo, a Académica deslocou-se até às Olaias para defrontar o Técnico e regressou a Coimbra com uma vitória por 73-24. Este resultado apenas demonstra que o Técnico não é mesmo equipa deste campeonato e que o nível competitivo da equipa lisboeta não é o adequado para esta divisão. O Técnico, sofreu 50 ou mais pontos em 8 dos 14 jogos disputados, sofrendo mais de 700 pontos em 14 jogos. Perante factos não há mesmo argumentos. A Académica demonstrou mais uma vez a boa época que vem fazendo, e apesar de ter poucas hipóteses de lutar pelo titulo, já garantiu o seu lugar nos 4 melhores deste ano.
Outro resultado volumoso foi aquele com que o Belenenses "brindou" o CDUP (77-8). Num jogo entre duas equipas que irão disputar para não descer, fica mais uma vez expresso as discrepâncias que existem nesta divisão.
Estes resultados apenas demonstram as desigualdades que existem. Temos 5 equipas de bom nível e 3 que estão num patamar abaixo, o que implica uma diminuição da competitividade do campeonato. Numa altura em que se discute o aumento da Divisão de Honra, não será altura de se discutir questões concretas para aumentar a competitividade? Será porventura benéfico para o nosso rugby existirem jogos com resultados de mais de 50 pontos de diferença? Poderemos ter uma selecção forte e a lutar com os melhores, quando o nosso campeonato apresenta tantas desigualdades? São estas questões que a Federação Portuguesa de Rugby terá de solucionar se queremos ter um campeonato de bom nível e uma selecção capaz de lutar pelo apuramento para o Mundial de 2015.
Segue-se agora um período de 11 semanas sem jogos até ao regresso do campeonato, que será disputado em duas seríes, os que jogarão para definir o titulo e os que jogarão para definir qual a equipa que desce. Neste período jogar-se-ão alguns jogos da selecção nacional no Torneio Europeu das Nações, e o campeonato de sevens que englobará equipas da Divisão de Honra e equipas da 1ª Divisão.
By Pedro Santos