23
Nov10
Em Frente
Minuto Zero
Homens e Homens
“Toca a acordar, vamos ao Núcleo que hoje estão cá os juniores”. Boa maneira de um pai acordar um filho, num sábado que parecia ser igual a todos os outros, mas que acabou por se revelar uma bela surpresa. Os juniores do Sporting Clube de Portugal alinhavam nesse dia na Figueira da Foz, defrontando a Naval, num jogo que se revelaria difícil, apesar da vitória alcançada. Mas antes do jogo, como que já de uma tradição se tratasse, lá foram os juniores almoçar ao Núcleo Sportinguista da cidade. Eu, como membro do mesmo, no passado nunca tinha aproveitado para marcar presença nessa ocasião, mas desta feita lá aconteceu.
Começaram a entrar, um com o cabelo com madeixas, outro com os brincos de praxe, outro que dia sim, dia não se fala da sua renovação… Enfim, um grupo de jovens a cumprir um sonho que um dia eu tinha sonhado para mim, entravam ali altivos, algo arrogantes. E eu a pensar em quantos Fábios Paims ali não estariam. A seguir, Começou a entrar a equipa técnica, um a um, e no final lá vinha um senhor mais velho, ao que parecia, o director da equipa.
Eu não sabia quem era, mas rapidamente me foi feito saber, pois mal parecia eu não o conhecer. Aquele pequeno senhor, era nada mais, nada menos, que o símbolo vivo do Sporting, Mário Lino. O defesa direito açoriano, campeão em 1961/1962 e em 1965/1966, vencedor da Taça das Taças em 1964. O treinador principal (antes havia sido adjunto no clube durante cinco anos), campeão nacional em 1974, numa equipa onde figurava o imortal “chirola”, Yazalde, um dos melhores jogadores estrangeiros que o futebol português já viu.
E eu, enquanto o senhor se preparava para almoçar, lá me fui aproximando dele de forma a ouvir umas histórias Sportinguistas. Meti conversa e logo me deparei com uma pessoa simples, nada arrogante, opondo-se em certa medida, aos jovens que minutos antes tinham ali chegado. E começou então o recordar de momentos passados, como que de uma conversa de avô e neto se tratasse. Contou-me de como tinha sido ele a evitar a saída de Yazalde aquando da sua chegada, para França. Falou com mágoa da angustiante eliminação da Taça das Taças, na meia-final, contra o Magdburg. O penalty falhado por Dinis, o falhanço de Tomé de baliza aberta nos instantes finais, ali tão presente. Recordou como o treinador que o seguiu (o imortal, Alfredo Di Stefano) não conseguiu aguentar o cargo durante muito tempo, saindo antes do inicio da época. Enfim, foi contando histórias… E eu ali. Ao pé de um leão campeão! Deliciado com cada momento daquela conversa.
E, pensava eu, como é que os miúdos da academia não conseguem viver e consumir aqueles momentos como eu. Como é que só vêm o Sporting como um trampolim para outros voos, que grande parte nem alcançará. “Mais Sportinguistas houvesse como o senhor”, despedi-me eu do Mário Lino, pensando que como ele, também existiram Homens como Manuel Fernandes. Homens de letra maiúscula, em oposição aos dias de hoje, onde homens são aqueles que não sentem o clube, mas cheiram o dinheiro, ficando apenas como uma ligeira e breve memória e não como parte da nossa história. Sábado, um desses homens estará em Alvalade…
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Fonte: ForumSCP |
Saudações Leoninas,
By Jorge Sousa